terça-feira, outubro 10, 2006

sopro de um amigo











Sopro de um Amigo

Senti um leve sopre, tão quente e ameno,
Que em encheu e me deixou a transbordar.
Todos os músculos do meu corpo relaxaram, deixando assim sereno
O meu espírito, a minha razão e o meu olhar…

E essa brisa eu já a havia sentido,
Quando me salvaste da cisterna no meio do deserto,
Onde a dor do fim eu já tinha sofrido,
Onde morte e vida se olharam de perto,

Fazendo-me infantilmente tremer e recear.
Pela profunda ignorância de indefinido,
Só teu sopro me veio acordar
Curando o meu flanco esquerdo e ferido…

Com as mãos que lançavas sobre mim
E que misteriosamente me restauravam,
Foste afastando e eliminando assim
Os medos que me assolavam.

E neste caminho me guiaste, com os teus passos
Com os pés pisando o tudo e o nada.
O meu amparo foram teus braços
Neste trilho onde a partida é a chegada.

Parti de mim e a mim regressei…
Fui tão longe sem sair de onde estava.
Aprendi, vi, guardei e amei
Tudo o que não tinha e me faltava,

Faltava nos meus olhos a paz dos teus,
Faltava na minha boca a sabedoria das tuas palavras,
Faltava nos domínios, a que chamo meus,
As terras da alma que lavravas,

Onde plantavas cuidadosamente cada semente,
Que regaste com mil cuidados,
Onde te vi soprar os corações de muita gente,
Que andavam devassos e abandonados…

2006

sábado, setembro 09, 2006

Quando Eu Deixar de Escrever














Quando Eu Deixar de Escrever

Quando eu deixar de escrever
Hei-de deixar de respirar,
Hei-de deixar de ser,
Hei-de deixar de amar…

Instaurarei uma guerra entre a alma e o coração.
Um conflito, que se prolongará eternamente
Que me fará perder os sentidos e a razão,
Até o meu corpo ser uma casa decadente.

Ficarei sem dons nem talento,
Ficarei sem audácia nem capacidade,
Ficarei sem esperança nem alento,
Ficarei sem motivação nem vontade.

Serei um farrapo de tudo
E um farrapo de nada…
Serei cego, surdo e mudo,
Serei um corpo cuja alma foi levada.

Não terei mais como falar,
Como dizer o que sinto.
Serei um ser devasso, que se há-de arrastar
E sobreviver com as réstias do instinto.

Não verei mais o céu
Com os olhos de pintor.
Não pintarei mais esse eterno véu,
De luz e de cor…

Não voarei mais com os bandos,
Nem nadarei com os cardumes.
Não andarei a teus doces mandos,
Não arderei nas nossas paixões e lumes…

Serei alma branca e vazia,
Como as folhas em que não escrevo.
Por tudo isto, farei o impossível para evitar o dia
Em que a fraqueza me torne seu servo…

2006

Obrigado













Obrigado

Uma vez, a propósito de um dilema
Disseste-me do fundo do coração:
“Não cries um problema,
Arranja uma solução”.

E esse conselho inesquecível,
Guardei-o bem guardado,
Mantive-o bem visível,
Para facilmente ser relembrado.

A ele ainda juntei
Os teus exemplos de vida,
Na tua força, e coragem me inspirei,
Para concretizar uma saída…

De toda e qualquer dificuldade
Com a qual me deparasse
E isso suprimiu a infantilidade,
Que por teimosia ainda restasse.

Cheguei bem mais alto
E tão mais perto do que queria,
Ajudaste-me a dar o salto
E hoje chegou o dia…

De agradecer,
Tudo o que fizeste por mim.
Havia tantas maneiras de o fazer,
Mas achei que a melhor seria assim…

Juntando letra a letra, para escrever-te um obrigado
E dizer-te que tudo o que me deste está bem guardado,
No fundo da alma e junto ao coração,
Fazendo cada momento e palavra, uma recordação,

Do álbum de infância,
Que usarei de hoje em diante.
O futuro não é de ignorância,
Pois tive-te como comandante…

Que me deu apoio,
E nunca me faltou,
Que me ensinou a separar o trigo do joio
E nada me negou…

E com esse carácter incontornável,
Indicaste-me um mundo muito mais estável.
Devo-te mil obrigados por tudo o que passou
E sei que mais virá, porque apenas uma página se virou.

Um patamar se atingiu,
Mas que nada alterou,
Quem te disse o contrário, mentiu,
Pois para mim nada mudou.

Serás, para mim,
Sempre alguém especial.
O teu amor não tem fim
E isso torna-te sensacional.

Esta foi a única forma que encontrei,
Para te agradecer.
A estas palavras me dediquei,
Como tu, em tudo aquilo que te vi fazer.

Obrigado, mil obrigados…
Por todos os conselhos e momentos,
Por todos os ensinamentos sagrados,
Que em guiaram noutros ventos.

A eternidade é um lugar,
Que se alcança na mente de outro alguém.
Na minha hás-de o alcançar,
Como uma amiga, um anjo, uma segunda mãe…

2006

Tonight










Tonight

Tonight,
I want to hold your hand,
I want us bind so tight
By this feeling we barely understand

‘Cause when you love somebody,
You love it any way.
It doesn’t mind neither face nor the body,
‘Cause there’re other things that makes me stay…

Like the secrets of love
That you whisper in my ears.
Like the way you make me feel above
When you wipe my tears

And that’s how I understand
What you mean for me.
You’re my holy hand
That sets me free.

It may brew a storm
And the rage of the sea
But I can’t fell any harm
While you’re sitting next to me

You’re something I’ve never had before.
You bring me feelings that I’ve always ignored.
You’re the one I’m looking for
And when I hold I know I’ll have much more.

More of your passionate kisses,
More of your magic fire,
The things that my heart misses,
When we aren’t bind with that invisible wire.

2006

Prisão Perpétua















Prisão Perpétua


Presos a uma vida, que não tentamos mudar.
Imóveis esperando que alguém a mude por nós.
Do fundo da masmorra ouvimos alguém falar
E há algo de familiar na sua voz.

É a voz de todos os “eus” que já tivemos,
Que cantam os antigos ideais.
Todos os sonhos e desejos pelos quais nada fizemos
E que agora regressam como rivais.

Para nos afrontar o futuro,
Com imagens do que já passou,
Tornando o nosso andar inseguro
E trazendo de novo, o que o vento levou.

E vêem para nos torturar,
Para rir de nós que estamos acorrentados?
Ou vêem só para nos lembrar,
O quanto estamos errados?

Ao entregar assim a vida,
Ao ócio e à comodidade,
Num labirinto sem saída
E sem gota de liberdade.

Presos por correntes, como a mentira,
A hipocrisia e a vaidade.
Lugares de onde ninguém nos tira,
Porque no caos não há caridade.

Não há vontade de viver,
Muito menos de ajudar alguém.
Neste mundo só a maldade pode prevalecer,
Pois o homem não sonha mais além…

Os seus horizontes estão no dinheiro,
E outras coisas sem valor.
Nunca entendeu o que é ser verdadeiro,
O que é dar e receber amor.

Dar em troca de nada,
Com o coração altruísta.
Mas a esses de alma queimada,
Já nada lhes mudará a vista.

A esses, que já não têm salvação,
Deixai os seus olhos verem os enganos
E aos outros, que ainda têm coração,
Devolvei-lhes as vidas roubadas durante todos estes anos.

Para que possam voltar a viver
E fugir desta perpétua prisão,
Onde os outros ficam sem quererem saber,
Se existe redenção.

Por tantos pecados contra tanta gente,
Mas sobretudo contra si próprios.
Essa recordação tão ardente
Da qual não fogem nem com os seus ópios.

Porque o mal que se faz,
É pago a dobrar,
Porque quem magoa sem olhar para trás,
Não merece que os tentem perdoar.

E venha a falsidade e a hipocrisia,
Servidas à mesa com tanto requinte…
Na ementa da prisão são prato do dia,
Para o rico e para o pedinte.

São veneno que mata devagar,
Mas que os vai aguentando.
Porque ninguém morre sem pagar
E sofrer pelo que em liberdade foi arruinando.

Estragando a sua vida e de todos à sua volta,
Sempre acusando os fracos e desprotegidos,
Enquanto vivia à solta,
E os entregava à lei oferecidos.

Mas mais tarde ou mais cedo,
Ela havia de os apanhar.
Para lhes apontar o dedo
E fazê-los pagar.

Por tantos crimes sem fim,
Para realizarem as avarentas ambições,
Mas tudo para eles acaba assim,
Atrás das grades das prisões.

E não são algemas destas que queremos para nós,
Pois não abdicamos da nossa liberdade.
Poucos têm de ouvir a voz,
Que nos leva a sanidade.

Ressuscitemos pois então,
Enquanto ainda é a nossa hora,
Porque o abandono e a solidão,
Fica esquecido quando vamos embora.

Na alvorada da nossa saída,
No regresso às antigas convicções,
No momento da partida,
Para as renovadas paixões.

2006

Irmão










Irmão


Foi ao fim da noite, que me contaram
Uma grande novidade.
A solidão que me destinaram,
Não era para a eternidade…

A pequena dádiva estava ali,
Tão perto sem eu saber.
Quantas vezes desejei, pedi,
O que estava agora prestes a receber.

Confesso a incerteza,
O ciúme e a insegurança,
Mas isso é coisa da natureza,
Que não pesa na balança.

E quando nos braços o sustentei,
Na derradeira primeira vez,
Com facilidade me apaixonei
Pela pureza da sua pequenez.

Irmão meu,
Sangue meu igual,
Quantas vezes já foi teu,
Parte do meu mal.

Mas só a tua presença,
Enjeita o meu conturbado ser,
Teus olhos prevêem a sentença,
Que eu hei-de sofrer.

E então eu paro para pensar
E recomeço de outra maneira, por outro inicio.
Às vezes a rotina consegue nos cegar,
E a alternativa não vence sobre o vício.
Quando te vejo a dormir,
No teu sono profundo,
Vejo lugares para onde fugir,
Tão melhores que este mundo.

E entre arrufos e outras confusões,
Ainda me dás a força e a coragem,
Em silêncio te entrego confissões,
E a teu lado sigo viagem.

Só há um desejo em mim,
Que quero realizar,
Estar sempre para ti
E que nada te possa faltar.

2006

Demanda













Demanda

À procura da suposta perfeição,
Como cavaleiro na demanda de um Graal.
Quantas vezes me interroguei se se esconderia na constelação,
Que sempre interpretei como um sinal…

Após tantas pegadas marcadas na areia
E tantos degraus já trepados,
A minha taça está meia vazia meia cheia,
Com todos os passos bem e mal dados.

Será este o caminho para a atingir,
Com tantos avanços e recuos?
Será que chegamos a querer partir,
Sabendo que nos esperam trilhos longínquos?

Muitos ficam para trás,
Com medo de continuar…
É triste o que a ignorância lhes faz,
Mas esses não merecem lá chegar.

E quantos dos que ainda seguem,
Não continuam a duvidar?
Pois as dúvidas que os perseguem,
São como mãos que os tentam travar.

E no meio de tanta desistência
E de tanta dificuldade,
Será que um pouco mais de persistência
Não lhes revelará em coisas simples, um lugar para a eternidade?

No sorriso do outro dia?
No pôr-do-sol, que antecede cada luar?
Neles havia algo que não se via,
Mas que tinha o seu quê de espectacular.

Pequenas coisas em tudo dissimuladas,
Só visíveis com olhos de ver.
Olhos cujas paisagens observadas,
Desvendam segredos, que o desconhecido teima em esconder…

E depois de tanta procura,
Paramos e olhamo-nos num espelho antigo.
Vemos o reflexo de genialidade e loucura
E entendemos que a perfeição é um conceito ambíguo.

2006

Batom e Lantejoulas










Batom e Lantejoulas

Lá vai ela rua fora
De batom nos lábios e vestido de lantejoulas
O relógio aponta a hora
Do reencontro das tolas

É tempo de futilidade e de falsa aparência
Exibidas em mais um bar da cidade
Roupas apertadas e toda a maquilhagem mostram ausência
De pureza, candura e simplicidade

E como para tolas só tolos
Lá estão eles sempre a babar
Pena ser verdade, pois é triste vê-los
A escolher qual comprar

E muito se vive e é assim
Por todos os recantos e lugares
Trocam-se mentiras sem fim
Nos seus sedutores olhares

Promessas falsas e outros enganos
Nos quais eles não s importam de permanecer
Será que após tantos e longos anos
Ainda não conseguiram aprender?

Mas deixemo-los estar,
Viver assim, digo antes, morrer
Tristes existências que querem alimentar,
Com dinheiro e prazer

Poucos ainda têm identidade
E muitos trocam-na por nada
Esses que não sentem saudade
Da essência que lhes foi reservada

Contudo de entre tanta maldade
Devem haver sobreviventes
Alguma eterna divindade
Brilhando no meio das inconscientes

Aquela a quem se chama “perfeita”
E que valha o sofrimento da paixão
Aquela que é bela e não se enfeita
E por quem se dê o peito, alma e muito para além do coração.

2006

Quantas Vezes










Quantas Vezes

Já alguma vez tiveste o desejo
De seres algo que não és?
Já alguma vez sentiste um beijo
Que te fez tremer da cabeça aos pés?

Já alguma vez viste o céu
Com outra cor que não azul?
Já alguma vez pensaste que o norte que achas teu
É para outros o sul?

Já alguma vez te sentiste frio
Numa noite quente?
Já alguma vez foste rio
Que corresse da foz para a nascente?

Já alguma vez te sentiste sozinho
No meio de muita gente?
Já alguma vez paraste um bocadinho
E pensaste que és igual mas diferente?

Já alguma vez te mandaste ao mar
Como quem se deita numa cama?
Já alguma vez viste fazer chorar
Alguém a quem verdadeiramente se ama?

Quantas vezes pensaste, foste, fizeste, sentiste, viste tu, tudo isto
E não contaste a ninguém?
Quantas vezes querias ter pensado, sido, feito, sentido, visto
Mas não havia ninguém…?

2006

Last Words













Last Words


When I’m gone you’ll need me
After the pain goes away
This life became a game
And I’m just trying to play

Fighting to see one more smile
Trying hard to make you notice me
Looking for another while (with you)
Show you my love and set it free

Till the breeze embraces my harms
And the night kisses my face
Till I’m swallowed by the earth
Till I’m gone from my place

And then you’ll miss me
As I miss you sometimes
You’ll need my words
My poems and my rimes

The ones you say that are too sad
The ones that make me bleed
The ones I’ve written at my bed
With lack of air to breath

And then you’ll miss me
You’ll need my ocean and my sky
The ones you say that are too melancholy
Live euphoric in my mind

2006

Perfeição










Perfeição


Quantas vezes olhámos o céu achando-o perfeito?
Sabendo-o como obra do eterno criador que nada faz com defeito.
Então se o céu é perfeito e nasce do sopro de um deus,
Porque vês tu imperfeição nos meus olhos e não nos teus?

Triste sociedade, afastada do desenho original,
Um espectro sem cor, do divino ideal.
Olhos firmados egocentricamente nos seus “eus”,
De onde a perfeição é tirada a ferros pelo senhor dos céus.

E esses senhores sem virtude enchem-se de raivosa inveja,
Não suportam que na aparente imperfeição, a perfeição se veja.
Tudo o que foge dos cânones para eles é inferior,
Mas deixa nascer o tal ser, que lhe havemos de dar amor.

Nada é perfeito como uma criança,
Que a tantos enche de alegria e esperança.
Aos olhos de muitos não é belo e perfeito,
Mas é ele que te faz sorrir e te acalenta o peito.

A ti, cujos olhos tudo vêem com paixão
E tens coragem para amar os que a diferença deita ao chão,
Não dá o mundo o teu devido valor,
Mas os seus sorrisos tão especiais compensam o cansaço e suor.

Falas deles com uma alegria na face apaixonada,
Não há nada que te demova desse ideal. Nada!
E com aquela perfeição só neles encerrada,
Te tornas tu mais perfeita entre os que não são nada…

2006

Moda













Moda

Como é bom ter quem nos diga como ser igual,
Como ser a cópia da cópia de um ideal,
Que alguém lançou ao mundo com motivação tão nobre,
Que é usado e abusado até pela mente mais pobre.

Falsos estilistas que comandam a troco de glória,
De valores monetários, de um nome na história.
Enquanto os seguidores seguem sem compreender,
Que o estilista não veste o que lhes quer vender.

Roupas para alma, que a deixam mais nua,
Há mendigos mais bem vestidos deitados pela rua.
A pobreza do corpo é a riqueza do seu ser.
Perde-se na vaidade a razão de viver.

E quem passa pela “passerelle”, são modelos descrentes,
Não acreditam no que vestem, mas são influentes,
Porque vende a roupa do espírito pela beleza exterior,
Àqueles seres amorfos sem qualquer valor.

As montras das lojas são ilusoriamente atractivas,
Tanta escuridão e vazio escondidos nas cores mais vivas.
Logo desde a porta o ser fica hipnotizado,
É despido de sentido, apagado e silenciado.

E depois vem a inveja do que o outro tem,
Deseja, a roupa do indivíduo que não é ninguém.
Atropelam-se mutuamente por trapos inúteis,
Não vêm aos espelhos os seus aspectos fúteis.

E nada desta moda faz realmente o mundo girar.
A evolução está no bolso, de quem nos anda a enganar,
Mas ninguém faz nada, nem de olhos abertos.
O conformismo esconde os iluminados e os seus intelectos.

2006

Redundâncias e Circularidades



Redundâncias e Circularidades

Respiram-se redundâncias e circularidades,
Nos olhos das gentes das nossas cidades.
Repetem constantemente o mesmo movimento,
Criam um filme em “loop” de um só momento.

Há indiferença à mudança.
Há pouca fé, pouca esperança.
Há pouco desejo de sair do mesmo rumo.
Há pouco desejo de reerguer o mundo sem fio-de-prumo.

Fotocopiamos dias, anos, séculos da mesma vida.
Corremos num labirinto sem nenhuma saída.
Olhamos um espelho e não vemos o futuro.
Pisamos terreno de diferença e achamo-lo inseguro.

E é só em dias em que o vazio é total,
Que sentimos os erros da existência tão sempre igual.
Dias passados às voltas no mesmo lugar,
Noites passadas a ver as alterações do luar.

E o porquê de tanta redundância?
Vidas que se apagam sem relevo ou importância.
Tanta passividade…
Tanto saudosismo, tanta saudade…

O passado não leva a lugar algum.
Deve ser apenas guardado em fotos de um álbum,
Que só se retira da prateleira para não voltar a errar
E não que se usa como ponto de partida para sonhar.

Porque o sonho, esse pinta o futuro,
Leva-o por terreno firme e seguro,
Dá-lhe nova forma e nova cor,
Dá-lhe novo cheiro e novo sabor.

E quem provar o futuro esquece os círculos da vida,
Vira os olhos para outro local com uma visão evoluída,
Sonha com a diferença e realização pessoal,
Sonha em ser ele mesmo e não mais um igual.

2006

O Cego Que Vê













O Cego que Vê

Luz.
Ofusca os olhos. Não posso ver…
Mas oiço, oiço-os vir,
Com os corpos deambulando na descrença.

Consigo cheirar os olhos e as lágrimas.
O desprezo e amargo cinismo,
Que nelas se dissolvem e que os deixam tão amorfos
E sós no meio da multidão.

Os meus sentidos aguçam-se,
Guerreando contra quem os deseja suprimir.
A vontade é de me transcender,
de sair nas ondas de um mar imaginário…

Sente-se o frio que deles emana.
Vazios! Vazios como folhas onde se escreve e não se lê.
Apartados da singularidade e da própria vontade
Guiados pelo o que eu menos quero ver.

Sentados, cumprem ordens de mãos maiores,
Mas deixam entre dentes fugir evoluções interiores.
Estão descontentes!
Mas desconhecem que a sua rebeldia é contra o “eu” dos seus espelhos…

Desconhecem mas estão colados à terra suja e vulgar,
Não se aventuram nem querem dentro de si viajar!
Têm tudo e nada lhes é negado...

Mas falta! Falta a vontade, o desejo e a paixão
E é por isso que se sente o cheiro,
Da partida de uma antiga alma,
Que se evadiu e que entra no mecanismo fabril de substituição.

Mecanizados e ligados à central,
Onde ninguém escapa e todos estão ligados.
É difícil a liberdade quando vivem assim acordados,
Mas em sonhos a libertação é possível.

Tão querida…tão esquecida…
E sempre tão mal amada,
Talvez haja quem a ame mas é engolido pela tendência instaurada
Que os enterra e pisa na lama social

Vistos como monstros pelos que verdadeiramente o são, Por aqueles a quem um universo entra pelos olhos,
Mas pouco dele sabem reter.

Censura é história de livros,
Mas há quem a faça reviver cegamente.
Deixam-se levar pela corrente,
Que os pretende afogar eternamente.

Não vejo… Mas oiço e cheiro!
E não é a isto que quero cheirar
Prefiro ser monstro apartado da lama
E poder voar,
Ser,
Ter,
Viver,
Sonhar
Até onde o vento me levar

2006

Mais Uma Viagem










Mais Uma Viagem

Cai a chuva da noite,
Na estrada deserta.
Espero pelo autocarro,
Que chega na hora certa.

A vida não tem segredos.
E os que tem vai-me os contar,
Para afastar de mim os medos,
Que me querem agarrar.

Desço na última paragem
E sigo até ao meu destino.
Trago na bagagem
Um sonho libertino.

Perco-me em pensamentos
De dias bem passados,
Remexendo em momentos,
Por nós tão bem guardados.

E volto da nossa quimera,
Onde muitas vezes me perdi.
Mas hoje acaba a espera,
Que eu fazia por ti.

Mais uma viagem,
Ao centro do teu ser.
Mais uma imagem,
Que não quero esquecer.

2006

Vive e Aprende









Vive e Aprende

Houve quem dissesse que o Mundo era quadrado.
Houve quem navegasse o mar nunca antes navegado.
Houve quem descobrisse o que há para lá do horizonte.
Houve quem escalasse o mais alto monte.

Houve quem fizesse o impossível.
Houve quem visse o invisível.
Houve quem voasse de mil e umas maneiras.
Houve quem ateasse as mais frias fogueiras.

Houve sempre às mãos deles ou delas
Feitos difíceis de igualar.
Quer em terra firme, quer em aviões ou caravelas
Eles souberam sempre lá chegar…

Com razão e sabedoria,
Ou com frieza e violência.
Havemos de o perceber, quando chegar o dia
Da vida eterna ou da infernal demência.

Outros hão-de vir para descobrir o novo mundo.
Há-de vir alguém que mergulhe mais fundo,
Alguém que voe mais alto,
Alguém que atravesse o oceano só de um salto.

Alguém que tenha aprendido com os erros do passado.
E que não os volte a cometer…
Que passe a porta para o outro lado,
Sem ter medo de se perder.

2006

Tarde













Tarde

Abraçados sobre a relva fresca, acabada de cortar,
E sob o azul céu sorridente.
Eram dois corações que só se queriam amar
E a que tudo para além um do outro lhes era indiferente.

A tarde foi um dia passado em poucas horas…
Foi manhã com o sol nascente,
Que se moveu sem demoras
E trouxe a noite de paixão ardente.

E havia um sorriso maroto,
A cada brincadeira.
Havia amor, um pelo outro,
Cada um à sua maneira.

Tudo era perfeito,
Tudo era deles…
O vento levava o preconceito,
Beijando ao de leve as suas peles.

Amam-se como são.
E nada mais precisam.
Sentem-se cheiros doces, de Verão
Que só a eles os visam.

E aquele jardim foi paraíso,
Onde se fez a criação.
Ela foi Eva sem aviso
E ele o jovem Adão…

De mãos dadas rua fora,
Não escondiam a alegria
De cada minuto de cada hora,
Vivida nesse dia…

2006

Incerteza







I


Incerteza

Uma incerteza persiste…
E nada contra a maré,
Do mar do olhar triste,
Que submerge a tua fé.

Sentes-te tão confuso,
Nesta estranha situação,
Como se um fuso
Te espicaçasse o coração.

Estavas a caminho do céu,
Mas acabas de tropeçar.
Cais para o lado,
E voltas a pensar.

Mergulhas profundo,
No corpo interior,
Bates bem no fundo,
Junto às dúvidas de amor.

Embrenhado numa floresta,
De dúvidas irracionais.
Juras que depois desta,
Não as haverá mais.

Quere-la só a ela,
É ela o teu caminho.
Olhas o futuro pela janela,
E vês o quão és pequenino…

Mas hás-de crescer.
Forte e apaixonado.
Teus olhos só a hão-de ver,
E só a ela quererás a teu lado.

Sobe de novo a escada!
E não voltes a cair…
Ela é a tua caminhada,
É por ela que vais subir.

2006

Teatro













Teatro

Desmascarem-se!
Como o fariam no fim de uma peça de teatro.
Desmascarem-se!
Já no primeiro acto…

Tirem essas máscaras!
Tão ilusoriamente reais.
Tirem essas máscaras!
Mostrem as vossas verdadeiras caras aos demais.

Tirem as infinitas máscaras,
Que têm vindo a empilhar.
Essas falsas caras,
Que vos ajudam a ludibriar

Por de trás de tantas cores e sorrisos,
Está a vaidade, o egoísmo e a ganância.
Feições atraentes que disfarçam a malícia e os cinismos,
Dos que vivem da hipocrisia e da arrogância.

E eu? Também vos tiro a fantasia…
E vêm logo indignados perguntar o que fiz…
Meus olhos vêm entre a negra magia,
Que os faz chorar e que assola o meu país

Agarro nas máscaras
E queimo-as aos olhos de toda a gente.
Ainda vejo algumas lágrimas,
Alguém que fica, com a máscara que mente…

2006

Trovoada e Chuva









Trovoada e Chuva

Lá fora, está a trovejar…
E eu cá dentro desejo ter-te para me abraçar,
Para me fazeres esquecer cada trovão
E acenderes a fogueira do coração.

Aquele fogo tão quente
Tão forte, aromático, atraente,
Que dá vontade de beijar a alma renovada.
Resultado daquela tarde chuvosa, mas abençoada.

A cada gota de chuva um beijo…
Com vida e força torrencial.
Não é com os olhos que te vejo,
Pois a sua visão é já tão superficial…

É preciso olhar mais longe,
Pelo telescópio do sonhador.
Para descobrir onde o tempo esconde
O nosso baú de amor.

Pois dentro dele está um mundo infinito,
Para onde saltaremos abraçados.
Não disse a ninguém mas será dito,
Que somos dois espíritos apaixonados…

2006

quarta-feira, setembro 06, 2006

quente













Quente

Agora estou quente,
Porque estou perto de ti…
Agora sou diferente,
Porque estás em mim…

A vida anda em ciclos
Em rotações repetidas.
Aprendemos a escolher caminhos,
Pela experiência das experiências vividas

Confusão mental?!
É uma expressão desapropriada.
Imaginemos simplesmente o presente como o local,
Onde a nova vida é fundada.

E o futuro…?
Esse é feito de incerteza.
Às vezes um porto seguro.
Outras, frágil protecção de insegura fortaleza.

Mas hoje estou bem atracado.
Então que venha o vento e a maré-alta,
Pois daqui não serei levado,
Porque cá tenho tudo o que me faz falta.

Agora estou quente,
E sou alguém…
Com a alma diferente,
Da que muita gente tem…

E é tão bom ver o brilho
Desses olhos! Desses olhos tão só teus.
São farol por onde guio,
A alma que reside nos meus.

2006

a rosa










A Rosa

Os campos verdejantes e extensos anunciam tempos de luz,
As árvores esguias e nuas agitam-se na calma do vento,
E é este o ambiente quente, atraente que me chama e seduz,
Enquanto o dia passa vagarosamente lento.

O sol eternamente brilhante e senhor do céu
Faz resplandecer o corpo e alma de quem se deixa enfeitiçar.
Pequenos repuxos jorram água pura e translúcida que cai como um véu.
E tudo o que já foi escuro renasce para perdurar.

E o coração? O coração também acorda fresco e restabelecido.
As batalhas foram muitas e muita foi a dor.
Tantas vezes andou moribundo de olhar ferido,
Tantas outras vazio, perdido e sem amor.

E não é só um anúncio, mas um novo começo,
Uma nova flor que nasce tão doce e ao mesmo tempo tão misteriosa,
Na mesma terra onde se enterrou uma vida virada do avesso
Nasce agora a mais perfeita rosa.

Com um perfume adocicado e apaixonante,
Sem espinhos ou imperfeições.
Uma beleza tão brilhante
Nascida de dois corações.

E é por isso que hoje não me vou picar
Nessa perfeição tão delicada.
O sol já brilha no meu olhar,
E isso significa o início da caminhada.

2006

a catástrofe somos nós




A Catástrofe Somos Nós

(poema premiado no concuros de poesia do Colégio Moderno 2005\2006)

Assustam-nos as manchetes dos jornais onde lemos:
“TSUNAMI MATA MILHÕES”
Vêm-nos à memória as perdas que, tanto tememos
Trazidas por vozes sofredoras, imagens desfocadas e indesejadas recordações

Tamanho é o medo, o receio e o temor
Que irrompem até no sono dos que só assistiram na televisão
Sequências rápidas e perturbantes de destruição e horror
Que espetam lanças de angustia no coração

Mais tarde, surgem os estudos e as razões para explicar o sucedido
Diz-se que se podia ter evitado tudo (que a culpa também é do Homem)
Que podia ninguém ter morrido

Mas morreu e a dor demora a deixar os olhos de quem chora
Fazemos males sem pensar
E só nos lembramos disso quando vemos alguém ir embora

Quem não se lembra de New Orleans a cidade submersa
Porque a força de um dique não bastou
Era sabido que em caso de catástrofe a consequência seria essa
Havia dinheiro para a evitar, e o Homem onde o gastou?

Guerra, custa ouvir essa palavra tão dura
A destruição de lugares e inocentes
Bombas Atómicas concretizando a vil loucura
Do império de gananciosos inconscientes

E quem paga a conta afinal?
É o Homem? É a Terra?
Ou será que não podemos pôr as coisas assim?

Somos o ser mais dotado
Pondo e dispondo à nossa maneira
Impomos o nosso reinado
Sobre um mundo que vamos tornando numa gigante lixeira

Será que não vemos?
Talvez tenhamos criado uma realidade mais agradável ao olhar
Acho que todos sabemos
Mas há quem não se queira preocupar

E parecendo frieza de um jovem escritor
Vejo a fome de riqueza e a ganância vencerem sobre a vida e o amor

Batalhamos connosco e com mais nada
Somos parte da natureza, embora evoluída e modificada
Mas esquecemo-nos disso todos os dias
Votando e elegendo governos de pessoas arrogantes e frias

Tão frias que permitem que a temperatura aumente
O gelo derreta, que o mar cresça e que a onda siga em frente
Arraste tudo e deixe somente a dor…
Será que já sabem agora quem é o culpado de tanto horror?

2006

segunda-feira, julho 31, 2006

o sonho da liberdade














O Sonho da Liberdade


Olho pelas frinchas da janela
E sonho alto…
Na manhã fresca e bela,
Sou pássaro, que abre as asas e prepara o salto.

Caiu nas nuvens tão leves e puras,
Que escondem o sol entre si.
Embarco no navio das mil aventuras,
Que me leva para ti.

O etéreo céu é a pauta desta sinfonia,
Onde voam anjos tocando, durante a noite e o dia.
Estendo as asas do sonho e atravesso mais uma barreira.
Voo entre bandos de pássaros mil colores, pela Terra inteira.

E que o dia nasça amanhã e me tragas forças,
Que eu tenha a energia da Terra, do céu e do mar,
Para correr entre as corsas.

Subir a mais alta montanha,
Sem nunca desistir.
Desbastar a selva, onde o corpo se embrenha,
Sem deixar a alma sucumbir.

Nadar no mar profundo
E desafiar o seu senhor.
Ser as ondas do mundo.
Ser o intocável nadador.

E no fim é ser rei do céu
E imperador de mil mares.
Esconder-me num jardim só teu
E abraçar-te, quando me encontrares.

Alcançaremos tudo o que um dia desejarmos,
Se sonharmos e soubermos voar.
No dia em que nos ultrapassarmos,
Nada nos há-de alcançar.

E de volta à sala escura
E à janela de onde via a manhã.
Sei que se não nos soltarmos, nasce a loucura,
Que deixa a vida amarga e vã.


2006

alma solta















Alma Solta

Acorda bem cedo
E pensa que hoje é um dia diferente.
Faz as coisas sem medo
E sai a rua a contar a toda a gente.

Que a tua alma está a ferver,
E que queres explodir.
Mandar tudo cá para fora
E não vês a hora de tudo sair.

A gritar,
Que esta guerra é só tua
E que a vais ganhar.
Gritar em casa e na rua,
Gritar, gritar, gritar, gritar…

Grita e diz o que decidiste,
Fazer da vida um bem maior.
Mostra que há sempre um que resiste,
Para escolher o melhor.

Que saiba virar o sol para si
E fazê-lo brilhar.
Que enfrente chuva e vento,
Que entre pelo mar.

E não importa o mundo à tua volta,
Porque a escolha já está feita.
Já tens a alma à solta
E o sol já está à espreita.

Porque escolheste viver
E ficar para contar,
Que depois do sol nascer
É preciso lutar…

É preciso gritar!
É preciso escolher!
O caminho a fazer,
Porque há uma vida a viver…

2006

pequeno guerreiro














Pequeno Guerreiro

Voltas à escola mais um dia,
Por entre a manhã calma e fria.
Na mochila levas a espada imaginária,
Para travar as batalhas da vida diária.

És um pequeno guerreiro, da enorme sociedade,
Que luta sem rancor, nem maldade.
Entre divisões e contas de somar,
Entre poemas e histórias de encantar.

Tu és forte e hás-de lá chegar,
Não há ninguém que te possa derrotar.
E sabes, que no recreio te espera a princesa,
A tua dama de infinita beleza.

E quando toca para o fim,
Voltas para o descanso que espera por ti.
O calor da tua fortaleza,
Onde não há dor nem frieza.

Vais descansar para o que ai virá,
Sabendo que nada te parará.
E quando o sol acordar,
Vais estar pronto para voltar a lutar.

2006

Portas Abertas















Portas Abertas

São portas, que se abrem,
Que outras vão fechar.
São espíritos que se evadem,
Fugindo do passado vulgar.

O ser olha o céu
E não vê nada,
Para lá do véu
Da madrugada.

Desvanece-se o sonho e a fantasia,
Da vida breve que cá ficou.
Fechas os olhos à luz do dia,
Que o destino te roubou.

A alma foge do corpo e da morte,
Para o paraíso nunca visitado.
Será o azar, será a sorte,
Esse destino malfadado.

Há um futuro a florescer
E um passado já esquecido.
Faz renascer o teu ser
E vive o que nunca foi vivido.

Que o sol brilhe sempre em ti,
Sem a inveja da lua.
Que caminhes até ao fim,
Por essa terra árida e nua.

Tens portas abertas,
Caminhos para escolher.
Faz as escolhas mais certas
E não te esqueças de viver.

2006

quarta-feira, julho 12, 2006

sonhos de inverno













Sonhos de Inverno

Empurras os astros,
Para onde ninguém os quer levar.
Trepas os mais altos mastros,
Onde nem as velas se querem içar.

És a voz do vento,
Falando em calma e leveza.
És um momento,
De infinita beleza.

Trazes contigo um nevão,
De infinitas questões,
Que arrefecem a paixão
E soterram os corações.

E essa doce maldade,
Que usas a brincar.
Provoca a vontade
De sorrir e amar.

Quero misturar os nossos sonhos de Inverno
E sentir a perfeição do ser.
Escrever um livro eterno,
Que só tu podes ler.

2006

o pescador da solidão









O Pescador da Solidão

De novo junto ao rio,
Lá estava ele, o pescador da solidão.
Envolto pelo nevoeiro frio,
Daquela paisagem de imensidão.

Não tem linha nem rede,
Porque pesca de forma diferente.
Guia-se pela fome e pela sede,
De estar sozinho e com toda a gente.

Pesca só com o coração
E não precisa de mais nada.
Talvez por isso desperte em mim a admiração
E me faça vir todos os dias vê-lo, da esplanada.

Faz-me invejar as histórias,
Que só conta ao mar.
Faz-me desejar ouvir as memórias,
Que sopra e se perdem no ar.

Senta-se junto ao mar,
Sem medo da rebentação
E fica ali à espera de pescar,
A companhia para a solidão.

2006

poeta saudosista











Poeta Saudosista

São janelas de outros tempos.
São moinhos de outros ventos.
São entes queridos,
Perdidos,
Nas areias da memória,
De bocas seladas, a contar a sua história.

Poeta saudosista,
Esquece lá o teu passado…
Estou aqui do teu lado,
Para te pintar outra vista.

São contos de fadas,
Bandeiras desfraldadas,
Que com mística energia,
Agitam em brisa e magia.

São pássaros dourados.
São rios chorados.
A sensação e plenitude.
A conquista de uma virtude (a mais no coração).

E ouve, tu que já não és,
Que procuras o perdido de lés a lés.
És um poeta saudosista,
Que perdeu a sua maior conquista.

2005

o rolo da memória










O Rolo Da Memória

A falta que me fazem as cores originais,
Misturadas em seculares vendavais.
Pintando planícies de silêncio e ruído,
Há muito tido, ouvido, esquecido…

Deambula o velho e triste sonhador,
Às vezes piloto às vezes velejador,
De um barco de redondilhas e sonetos,
Lançados ao mar por brancos ou por pretos…

A criança sorri eternamente inocente,
Na sua condição de pequeno sábio descrente.
No olhar traz futuro promissor,
De arquitecto, economista, doutor.

E no começo também eu via essas cores,
Também era velho perdido entre azuis amores,
Criança sorridente na tela do pintor,
Com o sorriso guardado na paleta multicolor.

Mostra-me lá de novo o abismo fundo,
Para eu escolher outro caminho que não o primeiro nem o segundo.
Para evitar as guitarras de cordas partidas,
E as velas há muito derretidas.

Pois talvez o que faça mesmo falta seja a cor,
Aquelas bem quentes que deixam o sabor,
Das tardes a ver ondas a beijarem as areias douradas,
Que no rolo da memória ficam fotografadas.

2005

metro










METRO

Uma viagem de metro,
A história de uma vida.
É vê-la de perto,
Tão concreta e definida.

Amores desamores,
Entram em cada nova estação.
Mudam só as cores,
Fica o cheiro da paixão.

Tenho um bilhete de ida sem volta…
Liberto o meu coração e deixo-o à solta,
Para ver o que há na linha,
Porque a vida nem sempre vai sozinha…

E ao chegar ao cais terminal,
Solta-se a voz que há em mim.
Procuro o bem e fujo ao mal,
No meio da multidão que corre em frenesim.

E há-de haver,
E há-de vir,
E hás-de ter,
E hás-de partir,
Num metro só para ti…

2005

domingo, julho 09, 2006

as tuas mãos estão frias








As Tuas Mãos Estão Frias

Vejo o rio lá ao longe,
Com as luzes bem no fundo.
Espero por ti,
Espero só mais um segundo.

Vou esperar até quando?
Com a lua a rir de mim,
Com o coração chorando,
E chamando por ti…

Não podes saber!
Não, hoje não te vou contar,
Mesmo com a alma a arder,
Sei que tenho de negar.

Que voltei a abrir a arca,
Das recordações já esquecidas.
Tornados de lembranças,
De mil outras vidas…

Dás-me as mãos uma última vez
E partes sem entender,
Que a minha sensatez
Foi só para te proteger.

E quando a noite já vai alta,
Lembro-me do teu sorriso.
Sei o quanto me faz falta,
Mas tenho de negar que o preciso.

Que quero sentir de novo as tuas mãos
Sempre tão suaves, finas e macias,
Que eu aquecia no calor das minhas,
Para as fazer esquecer que às vezes estão frias…

2005

forgotten angel










Forgotten Angel

You’re living in a world of lies
But don’t even think about it
Cause there won’t be more tries

You fooled me once
But you won’t fool me twice
Cause this time my friends gave me their piece of advice

So go away
Go away from me
I’ve opened my eyes and now I can see

I don’t want to be
With a selfish girl
And see my life become a real whirl

Sorrows and tears
And my heart full of fears

Wasted love and wasted time
You really have made me lose my mind

But now I can see
You’re not the girl I want for me

You don’t believe me
So I tell you your own lies
You say you love me
But you go out with other boys

Forget the time we passed together
For some people you’re their angel
But I can’t see a single feather

2005

sábado, julho 08, 2006

falling for you













Falling For You


I miss you everywhere
I still miss you every single while
The sweet-smelling hair
The brightness of your shinning smile

Life goes on
But not the way I want it to
Now I’m bind to this huge stone
That is my passion about you

The ocean is too deep
And the fall is big too
I can’t even breathe
Thinking that I’ll never tell you

Cause I deserve this edge over the sea
I deserve that you forget me
I try not to feel this again
But I can’t see you only as a friend

My soul can bleed
My eyes can cry
My heart will over beat
But you won’t be mine


2005

terça-feira, junho 13, 2006

quando precisares de alguém...










Quando precisares de alguém…(3º prémio no concurso de poesia do CM 2004\2005)

Quando as areias do tempo te enterrarem,
Eu vou estar para te agarrar.
Quando as neves de Inverno te gelarem,
Eu vou estar para te aquecer.

Quando sol já não brilhar,
E tudo à tua volta se apagar,
Quando a noite tudo engolir,
Eu vou estar para te sorrir.

Quando o tempo decidir parar,
E nem as gentes te queiram mais esperar,
Quando o teu nome se apagar,
Eu vou estar para o recordar.

Porquê estar aqui?
Porque não te esquecer…
Porque não partir e nada mais te dizer?
Porque não ir sem para trás olhar?
Porque não deixar-te aí sem nada para te apoiar?
Será que é porque é assim que somos feitos?
Ou será porque para a recebermos temos de a dar?

Talvez porque ela parta de cada um de nós
E, mesmo achando que não veio de lugar algum,
Nos faça querê-la quando estamos sós…

Talvez algo que se quer dizer, fazer, expressar, dar,
Mas que pode apenas passar,
Por um simples beijo, sorriso ou olhar,
Por um carinho quando estás triste
E, para ti, já nada vale ou existe.

Sabes, que quando tudo te parecer um não
E perderes o sentido que te guia o coração,
Alguém vai estar para te estender a mão,
E te levantar do chão…

2005


(para ti*)

segunda-feira, junho 12, 2006

volta












Volta

Vejo mil caras desconhecidas,
Mas com algo de familiar.
Vejo-os a correr pelas vidas,
À procura de um lugar.

E tu, só tu vais poder chegar…
E tu, só tu vais poder ficar…

Nesse lugar atrás das estrelas,
Onde sonho é realidade,
Onde todas as coisas são belas,
Onde um dia é uma eternidade,

E eu, só eu vou aguardar o teu regresso…
Porque é tudo, tudo o que mais peço…

A volta de uma luz,
De uma chave da vida,
Que me atrai e seduz,
Por ser tão apetecida.

2005




agora eu










Agora Eu

Não vou para casa,
Porque não quero lá estar.
O que agora é um inferno,
Em tempos foi o meu lar.

Saiu por aí,
Perdido entre a multidão.
Escondendo-me de mim,
Na mentira e na escuridão.

Procuro por ninguém
E volto só eu…
Já foste o meu anjo
E eu o teu céu.

Perdemo-nos na sombra,
Que nos perseguia,
Apesar de claramente
Ser o meio do dia.

Dou tudo por todos,
Eu sou mesmo assim,
Mas quando preciso,
Poucos são os que vêm a mim.

A roda está fechada,
E não posso entrar.
Fujo entre a derrocada,
Dos que me querem esmagar.

Pôr fim a um ser,
Que não sabe para onde vai,
Que não consegue compreender,
Quando se levanta ou quando cai.

Que perde aos poucos
O gosto de ser,
Como tristes loucos
Cansados de viver…

2005

caminhos e cheiros










Caminhos e Cheiros

Cheiros fortes e picantes,
A ervas e especiarias.
Lembrando terras distantes
E gloriosos dias.

Caminhos por descobrir
E outros já traçados,
Que os homens ao partir
Deixaram em mapas rasgados.

E o que eram afinal?
Talvez cheiros da paixão…
Que em dias de temporal,
Pôs o mundo em aflição.

Cheiros e caminhos,
Por muitos sonhados,
Que na bruma dos ninhos,
São livremente realizados.

E não há medo.
Muito menos condenação,
Pois ninguém aponta o dedo,
Ao bater do coração.

E eu sigo por um caminho,
Um caminho que não é meu.
E procuro o teu cheiro,
Que há muito se perdeu.

2005

aprender com o céu










Aprender com o Céu

Senti a rocha fria,
Onde há horas jazia enfeitiçado.
Passara lá o dia,
Sem saber como lá tinha chegado.

Ao dia juntava-se a noite,
Em tons de azul raiado.
E eu sentia a arte,
Do espectáculo ali pintado.

Se me olhares nos olhos,
Vês a inveja de não ser o pintor,
De não dirigir os sonhos,
De não assinar como autor.

Foi assim que ali cheguei,
Para tentar aprender,
A concretizar o que sonhei,
Desde que comecei a viver…

Porque tudo é sonho,
Tingido no céu.
Porque tudo é sonho,
Nosso, teu e meu…

2005


o fim











O Fim

De olhos no passeio,
Segue com medo de ser.
O medo de um receio,
Que não quer perceber.

Não responde ao toque,
Nem ao calor da multidão.
Nem o próprio choque,
O faz tirar os olhos do chão.

Foge de si mesmo,
Da sua dimensão.
Foge para longe,
Onde não chega a razão.

É queimado pela revolta,
Muito mais do que pela dor,
Que no seu corpo se solta
E lhe tinge o rosto de terror.

Não vê as mãos esticadas,
Na sua direcção,
Pois não são dotadas,
Para lhe dar a salvação.

Então cai por terra escura,
Onde não mora ninguém.
E adormece na doçura,
De ter sido alguém.

2005

quinta-feira, maio 25, 2006

a raiva do rapaz











A Raiva do Rapaz

Sabes quando a raiva te dá vontade de gritar?
Quantos sonhos esqueces tu para a dominar?

Sonhos de um dia ser, ter ou estar.
Sob um céu diferente ou sobre um novo mar.

E será que vale a pena, gritar por quem não merece?
Ou até mesmo pedir por eles em cada nova prece.

Porque a raiva já queima o peito desse rapaz.
Deixando a cada dia a vontade de olhar para trás.

Para esquecer os sonhos que sozinho produziu.
E levantar os olhos contra quem o impediu.

Rapaz levanta os olhos e esquece a dor!
Combate essa raiva, que apaga de ti o teu calor.

Que faz o corpo abraçar a alma.
Que te faz sentir a fúria e a calma.

2005

quarta-feira, maio 24, 2006

o escuro














O Escuro

Um tiro cruzou o escuro
E apagou mais uma vida.
Estranha relação de mau e puro,
Que se perde e é esquecida.

Apagada como riscos de criança,
Por borracha manchada,
De dor e falsa esperança
E escrita em folha suja e amachucada.

Largas a arma perguntando,
O que fui eu fazer?
E vais recordando,
O aviso que não quiseste ler…

Percebes que podias ter evitado,
Soprar mais uma vela acesa.
Podia-la ter agarrado,
Mantendo-lhe a alma presa.

Não queres falar do tema,
Porque preferes passar por cima.
Desarticular o poema,
E quebrar a rima.

Onde foi a luz,
Que com as mãos apaguei?
Onde está quem a produz,
Será que o matei.

2005

história de um poema



















História de um Poema

De mundo às costas,
Seguindo trilho ardiloso.
Relembra frases postas,
Ao tempo fogoso.

Pegando em escopro e martelo,
Fez a estátua imperfeita,
Que de olhar belo,
Reflecte a sua alma desfeita.

Mas a estátua ganha vida.
E embora cambaleando,
Toma a alma nunca antes tida,
Pois solta a língua rimando.

Nesse mesmo lugar,
Também o quadro se pinta.
A tela é o luar
E do sol brota a tinta.

Ele e só ele produz o sonho,
O desejo de encontrar.
Mais do que ouro, prata ou estanho,
Um lugar para repousar.

Lá cria com magia,
O que só o tempo destrói.
Tirando-lhe o poder que dele faria,
Imperador, rei, herói.

E ela não é esquecida,
Pois está nela o movimento celeste.
A razão da nova vida,
Que desperta com o sol de leste.

2005

um dia de cada vez










Um Dia de Cada Vez

Passo as portas do teu medo,
Mas não bato nem tento entrar.
Calo para mim o segredo,
Que nunca te consegui contar.

Sigo assim rua fora,
Respirando o ar frio da manhã
E não perco pela demora,
Para ver um novo amanhã.

Cheguei!
E olhei para ti.
Não quiseste ouvir o que falei…
E então?
Então eu parti, parti e nunca mais voltei.

Chamaste, mas já é tarde.
Eu não volto atrás no tempo.
O sol vai alto e arde
E já queima o firmamento.

Vivo um dia de cada vez,
Não importa o que pensas de mim.
Não sei o que leste nem o que lês,
Mas já escrevi um fim.

2005

contra o vento










Contra o Vento

Sorriso puro,
Que se perde em pele queimada.
Pensamento seguro,

Da razão mais desejada.

Nas mãos sinfonia,
Que não para de tocar.
Bela melodia,
Que acalma o olhar.

E só há-de haver um sonho para sonhar.
Uma luta para ganhar,
Uma lágrima por conter,
E um desejo de dizer…

Para lutares contra o vento,
E deixares-te agarrar.
Pela brisa do tempo,
Que te quer acariciar.

E tu podes voar por ti,
Com as asas do que sentes,
Porque quem é por si,
É diferente dos diferentes.

2005

domingo, maio 14, 2006

luzes da noite









Luzes da noite

São as luzes da noite escura,
Almas e corpos que ardem por dentro.
Movimentos de paixão e loucura
Aproveitando o respirar do momento.

E quando o dia dá mostras da sua chegada,
Apagam-se luzes sem deixar rasto algum.
Calam-se segredos da noite iluminada,
Na boca de cada um.

Escuridão carinhosa,
Magia envolvente,
Treva enganosa,
Que o agarra a ele e a toda a gente.

Escapando às artimanhas das luzes apagadas.
Segue iluminado pela mulher do astro maior.
Que o afasta das ciladas,
Levando-o por caminho melhor.

E ainda a noite é uma criança,
E já acordou o pequeno lutador.
No qual reside a esperança,
De encontrar o verdadeiro amor.

2005

almas perdidas














Almas Perdidas


Caiu uma lágrima,
E depois outra maior,
Que pesava o grama,
Do que me restava de amor.

Assim se encheu um rio,
Que praticamente gelou.
Tal era a imensidão e o frio,
Que em mim se gerou.

E vocês não percebem,
Porque têm corações enfeitiçados.
Pelo néctar do mal que bebem,
E que os deixa petrificados.

Pedia-vos que acordassem,
Mas não iam ouvir…
Pois talvez desprezassem,
Poder voltar a sentir.

E, só então fico eu.
Chorando as vossas almas perdidas,
Que trocaram caminho seu,
Por ambições mais apetecidas.


2005

o sol e a loucura













O Sol e a Loucura


Não foi isto que pedi.
Não foi isto que pintei.
Não foi isto que escrevi.
Não foi isto que sonhei.

Talvez siga o caminho,
De que tanto falaste.
A procurar o carinho,
Que tanto demandaste.

Mas a dor estende-se,
Nos campos do olhar,
Pois passa-se o dia
E não te vejo chegar.

Não partilho a brisa dentro de mim,
Porque não tem para onde seguir.
Fica assim aprisionada,
Até eu partir…

O sol já não traz o dia,
Porque tudo é treva escura.
E agora o que mais queria
Era adormecer na minha loucura…


2005

o vento sopra fraco











O vento sopra fraco

Se escrevesse o teu nome nas ondas do mar,
Passaria o meu mortal tempo a contemplar.
As letras que brilham ao sol do meio-dia,
Que me chamam do meio da calmaria.

E até quando as palavras faltarem.
E o vento que sopro com elas, para ti se perder.
Quero e espero que não esqueças,
O que tentei dizer.

Na fantasia de um mundo,
Em que vivo para te respirar.
Não hesitaria um segundo,
Para te explicar…

Que por mais palavras escritas
E sopradas ao vento, que corre,
O que sinto por ti,
É algo que incansavelmente nunca morre.

E por estranha que possa parecer,
A força com que te sopro o vento.
É uma tentativa de te dizer,
Que o limite está para lá do firmamento.

2005