
O Rolo Da Memória
A falta que me fazem as cores originais,
Misturadas em seculares vendavais.
Pintando planícies de silêncio e ruído,
Há muito tido, ouvido, esquecido…
Deambula o velho e triste sonhador,
Às vezes piloto às vezes velejador,
De um barco de redondilhas e sonetos,
Lançados ao mar por brancos ou por pretos…
A criança sorri eternamente inocente,
Na sua condição de pequeno sábio descrente.
No olhar traz futuro promissor,
De arquitecto, economista, doutor.
E no começo também eu via essas cores,
Também era velho perdido entre azuis amores,
Criança sorridente na tela do pintor,
Com o sorriso guardado na paleta multicolor.
Mostra-me lá de novo o abismo fundo,
Para eu escolher outro caminho que não o primeiro nem o segundo.
Para evitar as guitarras de cordas partidas,
E as velas há muito derretidas.
Pois talvez o que faça mesmo falta seja a cor,
Aquelas bem quentes que deixam o sabor,
Das tardes a ver ondas a beijarem as areias douradas,
Que no rolo da memória ficam fotografadas.
2005
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