sábado, setembro 09, 2006

Prisão Perpétua















Prisão Perpétua


Presos a uma vida, que não tentamos mudar.
Imóveis esperando que alguém a mude por nós.
Do fundo da masmorra ouvimos alguém falar
E há algo de familiar na sua voz.

É a voz de todos os “eus” que já tivemos,
Que cantam os antigos ideais.
Todos os sonhos e desejos pelos quais nada fizemos
E que agora regressam como rivais.

Para nos afrontar o futuro,
Com imagens do que já passou,
Tornando o nosso andar inseguro
E trazendo de novo, o que o vento levou.

E vêem para nos torturar,
Para rir de nós que estamos acorrentados?
Ou vêem só para nos lembrar,
O quanto estamos errados?

Ao entregar assim a vida,
Ao ócio e à comodidade,
Num labirinto sem saída
E sem gota de liberdade.

Presos por correntes, como a mentira,
A hipocrisia e a vaidade.
Lugares de onde ninguém nos tira,
Porque no caos não há caridade.

Não há vontade de viver,
Muito menos de ajudar alguém.
Neste mundo só a maldade pode prevalecer,
Pois o homem não sonha mais além…

Os seus horizontes estão no dinheiro,
E outras coisas sem valor.
Nunca entendeu o que é ser verdadeiro,
O que é dar e receber amor.

Dar em troca de nada,
Com o coração altruísta.
Mas a esses de alma queimada,
Já nada lhes mudará a vista.

A esses, que já não têm salvação,
Deixai os seus olhos verem os enganos
E aos outros, que ainda têm coração,
Devolvei-lhes as vidas roubadas durante todos estes anos.

Para que possam voltar a viver
E fugir desta perpétua prisão,
Onde os outros ficam sem quererem saber,
Se existe redenção.

Por tantos pecados contra tanta gente,
Mas sobretudo contra si próprios.
Essa recordação tão ardente
Da qual não fogem nem com os seus ópios.

Porque o mal que se faz,
É pago a dobrar,
Porque quem magoa sem olhar para trás,
Não merece que os tentem perdoar.

E venha a falsidade e a hipocrisia,
Servidas à mesa com tanto requinte…
Na ementa da prisão são prato do dia,
Para o rico e para o pedinte.

São veneno que mata devagar,
Mas que os vai aguentando.
Porque ninguém morre sem pagar
E sofrer pelo que em liberdade foi arruinando.

Estragando a sua vida e de todos à sua volta,
Sempre acusando os fracos e desprotegidos,
Enquanto vivia à solta,
E os entregava à lei oferecidos.

Mas mais tarde ou mais cedo,
Ela havia de os apanhar.
Para lhes apontar o dedo
E fazê-los pagar.

Por tantos crimes sem fim,
Para realizarem as avarentas ambições,
Mas tudo para eles acaba assim,
Atrás das grades das prisões.

E não são algemas destas que queremos para nós,
Pois não abdicamos da nossa liberdade.
Poucos têm de ouvir a voz,
Que nos leva a sanidade.

Ressuscitemos pois então,
Enquanto ainda é a nossa hora,
Porque o abandono e a solidão,
Fica esquecido quando vamos embora.

Na alvorada da nossa saída,
No regresso às antigas convicções,
No momento da partida,
Para as renovadas paixões.

2006

Sem comentários: