sexta-feira, setembro 07, 2007

Prefácio Joana Vaz





"Bem, aviso desde já que o meu jeito com palavras não é, nem de longe, parecido com o teu mas, vou esforçar-me para fazer uma coisa decente... afinal de contas, não é todos os dias que uma pessoa é convidada para escrever um dos 13 textos que irá figurar o prefácio! E que numero giro...mas adiante!
Conheci este poeta num EVJ (afinal sempre é verdade que estes encontros vicariais promovem novas amizades) onde este menino começou por mostrar que dá umas “arranhadelas” na guitarra (grande serenata..hihi)! Mais tarde, surgiu a Liricoterapia, ou seja, uma terapia através de poemas! E foi aí que eu conheci o verdadeiro dom do Pedro: a poesia!
Ele brinca com as palavras de uma maneira espectacular, transmitindo por escrito aquilo que lhe vai na alma, acabando por ir ao encontro daquilo que as outras pessoas que lêem o que escreve sentem! É caso para dizer que o Pedro “é um fingidor./ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente” (grande Fernando Pessoa...vê lá se não fazes como ele e arranjas heterônimos). E vendo bem, o restante poema também é verdade, porque a “dor” que os leitores sentem é a própria dor deles, nunca as duas do poeta...okay, vamos deixar-nos de fernandices e passar a pedrices...
Eu já estou farta de perguntar isto, mas, quando é que lanças um livro? É que tem uma certa piada as pessoas conhecerem os teus poemas antes de tu entregares o óbolo ao barqueiro, para poder receber um autógrafo... mas enfim.
Como eu acho que esta “coisa” já está a ficar um bocadinho comprida, acho que está na altura de a finalizar, desejando-te poucos eufemismos, muitas onomatopeias “melosas” (hihi), muitas hipérboles, epizêuxis e diácopes (estas duas últimas vais ter que procurar) com amor, saúde, família e afins, poucas perífrases (a bom entendedor meia palavra basta...) e, se virmos bem, poucas antíteses, poucas aliterações (ninguém te quer a falar como o “V”), poucos paradoxos...ou seja, que tudo te corra bem e que consigas sempre realizar os teus sonhos!"

Beijocas de tua paciente
Joana Vaz =)

sábado, agosto 25, 2007

Amor


Amor

Pensei fazer rimar num só poema
Todas as palavras que continha.
Amor seja esse o tema!
Que loucura esta a minha
Que nem foi problema
Pois bastou uma só palavrinha…

Tu!

Lisboa \ Azueira
13\14.07.2007

Sonho e Música


Sonho e Música

Sentei-me lá fora na cadeia de baloiço,
Já era tarde…
As nuvens em fumo
Cobriam o foco que a lua era naquela noite.

Cruzei as pernas
E deixei-me embrenhar nos barulhos da escuridão,
Coro de sussurros, movimentos e gestos calculados,
Delineados na orla verde negro.
O astro adquiria à passagem de cada nuvem e sombra
Um brilho indescritível e vibrante,
Que incidia sobre a varanda
Onde ainda hoje olho este mundo e vejo o outro!

Subo agora os três degraus, lembro-me da varanda,
E lá está ele novamente,
Um foco que incide directamente em mim,
Um coro expectante de sentimentos
E uma imensidão de silêncio agitado.

Soltam-se notas,
Que são tinta para as palavras.
Harmonias que acompanham a voz do sonho,
Melodia flutuante
Feita da crença do que ouve e do que espera ser ouvido.
Há um desejo a dois,
Um rumo colectivo de pegadas conjuntas na areia
De um tempo, que nem o mar feroz pode apaziguar.

Deitei a cabeça e vi-me envolto numa partitura,
Onde componho a vida.
Com mais dinâmicas ou mais ritmo,
Num “Largo” de conforto, consonâncias, repouso, saudades e calma.
Num “Andante, ritmo de vida e de ocupação,
Que as circunstâncias trazem com constante barra dupla no final.
Num”Alegro” de agitação louca e descontrolada, com dissonantes alterações,
Tercinas sem sentido encaixadas em divisões de seres binários,
Que se perdem por não saberem qual a clave em que escrevem a vida.

Todo o homem tem um sonho!
Guardado dentro ou fora da caixa pulsante
Onde correm os rios de vida rubra.
Cada sonho acende um fogo,
Que consome a alma ou o corpo,
O espírito ou a matéria.
E não há como comprar um sonho,
Que sonhos são coisa livre e sem preço
E ou os temos ou seremos sempre vazios no vazio.

Não há mais música num sonho
Que sonho numa música!
Porque seguindo a receita, Deus os fez em conta perfeita,
A sinfonia alegre e doce,
Que penetra a pele de cada um
E corre nas veias
Acendendo a vida e o sonho,
De um palco mundo, de uma lua brilhando sobre nós
E de uma noite que nos abrace e nos dê o Sonho eterno

Agosto 2007

quinta-feira, agosto 23, 2007

Erros


Erros

Tantos passos já andei!
Tantos dei em falso.
A pobreza a que me larguei
Deixou-me descalço.

Piso o mundo com pés de louco,
Durmo em qualquer lugar.
Tudo me sabe a tão pouco,
Porque havia eu de falhar?

Fracasso por amor excessivo!
Mudei tudo para te ter,
Dei sorriso ao “eu” depressivo,
Nasci depois de morrer.

Procurei ainda a plenitude
E com certeza no meu desejo,
Busquei ter a virtude
De ser outro ao dar-te um beijo…

De sentir a força que corre
E deixa o mundo a girar em frenesim,
Que mata, dá vida e não morre
E que explode dentro de mim.

Não te dei nunca um beijo…
Mas já fiz tanto para te o dar.
O quadro que em sonho vejo,
Acaba sempre por se rasgar.

Perdoem-me os que atropelei
Na minha ânsia louca,
De ganhar as guerras que travei,
De beijar teus olhos, sentir tua boca.

Não posso errar mais assim
E olhar o erro que fica para trás.
Deixar que ele tome conta de mim,
A rir irónico, negro, mordaz.

Passaram tantos anos voando,
E tantos erros ficam plantados.
Os sonhos que vou sonhando
Estão cada vez mais acorrentados.

Grito aos sete ventos,
Até ao surgir da aurora,
Que quero em gestos lentos
Abraçar-te e saber que é a Hora!

Bandalhoeira
23.08.2007





terça-feira, agosto 21, 2007

Morrer


Morrer

Dei dois passos
E então cai.
Abri os braços,
Respirei fundo e sorri.
Cortei os laços
A que me prendi.

Vou explodir!
Aperto os dedos
Para nada fugir.
Deixo só os medos,
Esses podem partir
De meus olhos ledos.

Livre do mundo,
Preso a mim.
Poço sem fundo,
Asas de querubim.
A vida num segundo,
Único, sem fim…

Tempo sobre tempo,
Escuridão a cair,
Num só movimento,
Que me faz sair.
Tão breve mas lento
Este meu sumir.

Paro de repente!
Há algo familiar
Neste estranho subitamente.
Como pode uma queda parar
E ter fim o eternamente,
Para onde me queriam levar?

O corpo contraído,
Enche-o a dor.
Instante sofrido
Passa sem clamor.
Logo esquecido,
Cresce o calor…

Sobe a ansiedade
E corpo também.
Alguém o puxa à verdade
Quem será, quem?
Quem devolve a liberdade
Que foi e agora vem?

Plenitude!
Enche-me de mim,
Será mais uma vicissitude?
Princípio ou fim?
Não é inquietude,
Mas é frenesim.

Sombras de luz imensa
Confortam, abraçam,
Que força intensa
Com que trespassam.
Acendem a crença
No fogo que lançam.

Morri
De tanta vida.
Parti
Para voltar à partida.
Cheguei e vi
Adeus, estou de saída…

Vou lutar
De sangue e alma.
Coração a palpitar
De tanta calma.
Conheço o verbo sonhar
Como da minha mão a palma.

Luto pelo céu,
Pelo sonho que vivi.
Deito-me no mausoléu,
Que eu próprio construí,
Para escondido no teu véu,
Ser tudo dentro de ti.

Chamas de fulgores anis,
Luz no inferno.
Cinzas em que me desfiz,
Calor de Inverno.
És tudo o que sempre quis,
Amor eterno!

Lisboa
13.07.2007

sexta-feira, julho 13, 2007

Arranca-me do chão


Arranca-me do chão

Deitado no chão,
Escuto ao longe a sirene.
Bate com o coração,
Nada é menos perene…

Meia vida tem o corpo,
Onde está a alma.
Vazio e morto,
Mas tão cheio de calma.

Ainda te vejo chegar
Mesmo cego da dor,
Tenho de te implorar
Um último favor.

Apaga a razão,
Leva-me de mim.
Arranca-me a este chão,
Dá o meu fim!

Volta a sorrir
Antes que não te veja.
Deixa sair
Esse calor que me beija.

Está na hora!
Não há como me agarrar,
Ninguém me chora,
Façam só por me guardar…

09.07.2007

Espelho


Espelho

Numa noite vimos todas as mulheres do mundo!
Todas, sem que faltasse uma.
E em todas vi cores presas numa prisão de duas paredes,
Uma preta e uma branca.

Exausto de toda a busca fechei os olhos.
Ouvi-te perguntar por entre o escuro:
“Quem escolheste?”
Não soltei uma só palavra.
Acordei do meu sono e sentei-me chamando-te para junto de mim,
Depois destapei o espelho
E nele explodiu em milhares de cores a tua imagem,
Como uma tela pintada pelo pintor,
Que dá vida aos seus quadros…

Sorriste!
Com o sorriso de sempre,
E em ti brilhou mais uma vez a paleta,
Onde se misturavam
Céu e oceano, terra e fogo
E o jardim das rosas que perfumaste com o teu cheiro.
Do centro da fusão do mundo vi gerar-se uma pomba de luz
Que me trouxe o convite…

Toquei no espelho e tu tocaste-me.
Deitei-me no verde ao teu lado a ver nascer o sol de oiro
E passar o tempo incolor.
Passei do mundo para o Mundo
E fui o que a ti te pintei!
Acordo pleno e vejo nas minhas roupas a cor do sonho
Já sei quem quero que me escolha…

Lisboa 09.07.2007

Labirinto


Labirinto

Que raiva,
De ser neste corpo
E não escapar até ti
Em espírito só!

Beijar-te os cabelos
E o teu gesto calmo!
Envolver-te
E sentir o teu calor!

Ser teu só teu…
E não estar encurralado
Num labirinto,
Que plantei e que cresci.

Fico pelo sonho!
Até amanhã…
Poucas palavras,
Muito amor e saudade!

Lisboa 03.07.2007

Vento Forte


Vento Forte

Apagado o tempo
E o ritmo do compasso.
Sopro com o vento,
Sou dele quando passo.

Da madrugada
Embebida em azul,
A voz afogada
Aponta para sul.

Venha o vento forte
Que me leva para ti.
Venha a pouca sorte
De ser o que não vivi.

Venha o vento forte
Que me leve para o sul.
Lanço me à sorte
Do eterno céu azul.

Numa terra distante,
Onde ardem água e fogo
Numa luta constante
Para gerar um corpo novo.

Perco me de mim,
Desleal até à razão.
Numa busca sem fim
Pela eterna perfeição.

Lisboa
03.07.2007

Conversas Mudas


Conversas Mudas

Junto às flores,
Que de amarelo pintam o nosso chão,
Toda a confusão dentro de mim.

Do dia atravessado em passos de palavras
E em conversas de caminhos e significados,
Andámos Unidos!

Segredo,

Chamei a esta prisão.
Caixa anónima que prende tudo, o que em mim quer explodir,

Com quanta força haja no universo…

Segredos de Sonhos,
De Mundos e de Tempos,
Em mundo e tempo onde pouco há de sonho…

Ainda respiro imaginação

Que me leve para lá do sono

E que propicie que o esforço de uma só letra me faça vivê-lo!

Segredos revelados,
Nos olhos e nos gestos,
Onde o silêncio compra o silêncio do corpo.

Nunca dei por terra um Sonho,
Que fosse mais que fantasia ou desejo
Para ser inexplicável necessidade de ter asas para Voar
Num só a dois…

Perdido
É o que se esconde do Sonho, não luta
E não crê o impossível
De onde sorri a felicidade!

Não me perdi!
Na realidade ando encontrado
E é isso que me dói…

Segredos calados
Em conversas mudas,
Em gestos presos,
Em Sonhos enjaulados…

Despeço-me.
Abraço-te e levo-te sem que o saibas…

Fecho a porta
E sopro umas últimas palavras e um adeus…

Amanhã é outro dia
Mais difícil…
(Saudade!)
Lisboa 03.07.07

Sempre


Sempre

Amigo,
Nunca esquecido,
Para sempre encontrado,
Nunca perdido.
Sangue e alma num abraço,
Que enche o espaço,
Que aumenta com a despedida.
Somos chegada
Nunca partida!
Vamos.
Voltamos.
Vivemos.
Sonhamos!
Somos e amamos,
Como um céu de eterno azul raiado.
Estaremos no norte, no sul
E em tudo o que possa ser lembrado.
Alma minha, saudade,
Minha força e liberdade,
Minha chuva renovadora,
És as lágrimas que se chora
Quando a partida dói,
Na hora e no coração
E no muito da alma
Em que são lembranças tuas
E memórias das palavras em que danças
E das histórias que guardaremos
Para sempre em nós,
Recordando o que vivemos.
Escutando eternamente
A música cantando na nossa voz,
Do fundo de um lugar,
Onde brilhando o luar
Terá sempre mais magia
E onde a noite será o dia
Do abraço, que na escuridão fria
Apertou o laço que nos ligou
Para um sempre que não é o sempre que leva o vento,
Mas o que se guarda na palma da mão
E que nela esconde o firmamento
Que nunca tem fim…


(à minha querida amiga Inês, por tudo o que de bom se passou e por todos os poemas que me fez escrever...este é O nosso poema)

24.06.2007

Céu


Céu

O eterno etéreo
De onde escorre o mar,
Encerra nele o mistério
Que faz o sonho navegar.

Apartadas as tormentas
Da Boa Esperança, fé
Em ti Senhor, que sustentas
Os pilares do mundo de pé.

Deste a Atlas o mundo,
Para que o carregasse
E o Azul profundo
Ao homem, para que o desvendasse.

Ele não te falhou,
Com ele levou teu nome.
A boa vez em que pecou
Teve de infinito fome!

Perdoa-lhe a ambição,
Dando-lhe honra e glória.
Dá alma ao coração
Dá à sua espada vitória.

Em suas mãos confiada
A esfera que criaste,
A Máquina do Mundo reactivada,
Para a viagem que lhe destinaste…

Bandalhoeira
06.2007

quinta-feira, julho 12, 2007

Mar


Mar

Em virtude
Do que muitos outros fizeram
E procurando o engenho e a atitude,
Lembro agora o conhecimento que me deram…

Acordei
Com vontade de cantar o mar.
Fingi e imaginei
Palavras para navegar.

Ó espelho,
De um céu por Deus mais amado,
Calaste com as ondas o velho
Do Restelo para trás deixado…

O marinheiro,
Em ti em é breve e esforçado.
À partida no Paço Terreiro
Volta o barco, ele não, coitado!

De ti as histórias
De monstros e heróis eternos,
À fogueira são iluminadas memórias
Para aquecer as almas nos duros Invernos.

Escuta atentamente,
O que agora te digo.
Vou-te falar da gente
Que fez futuro, o que eras perigo.

Bravo povo!
Alma lusa, guerreira e boa,
Que o Horizonte novo
Veio na sua proa.

mar,
Só foste Mar,
Quando a vontade de Deus
E o sonho do Homem
Fizeram Portugal navegar!

Bandalhoeira
08.06.2007

Voltei


Voltei

Voltei!
Acordado do sono profundo
Em que, por vontade minha ou descuido,
Me deixei adormecer e ficar.

Cumprimento vivamente o que materialmente me rodeia,
Fazendo a vénia habitual ao sol e ao céu.
Deixo, no entanto ao espírito, as últimas cerimónias
E protocolos habituais.

Quando penso no sono sem sonho,
Que tenho dormido e sonhado,
Dói ser o que nunca fui
Quando o sou…

Mas alegra-me cantar o vento, que corre
E faz agitar as copas das árvores e do cabelo,
De para quem sou brisa leve e suave de fim de tarde
Agitando o trigo louro nos campos e maresia do seu olhar.

Não sou efémero!
Não enquanto no seu coração for caixa de música
Onde o tempo dá à corda e me faz cantar
Com voz de criança, essa doce e mágica melodia,

Que se vai escapando,
Como areia nas suas mãos,
Ao entendimento dos mais sábios, magos e relojoeiros
Do mundo que lhes ordena julgar que o regem…

Livramento \ Bandalhoeira
07.05.2007

(Enquanto o céu for céu)


Enquanto o céu for céu
Nem mais claro nem mais escuro
Enquanto o verde dos campos
For frescura e vitalidade
Enquanto o sol for vida
E a vida um sorriso
Enquanto o amor for não só uma cor
Mas toda a paleta, a tela e o pintor
Enquanto uma palavra
Guardar um universo de tantas outras
Enquanto um número por mais pequeno que seja
Continue a ser o maior de todos
Enquanto o poeta inspirar um mundo
E expirar outro
Viver será não desistir,
Será ser o mundo,
Será nascer e morrer,
Será ser, amar e vencer

(ao Prof. Jorge Miranda)

11.05.2007

Nascer


Nascer

Mais magnífica do que esperança na pequena semente,
A expectativa da árvore que crescerá e dará frutos,
É só por si algo de fantástico e avassalador.

Marcada pelo destino logo que dá o primeiro suspiro,
A vida ganha significado
E ao seu encontro vão os únicos braços que conhece…

Meigos, quentes, reconfortantes,
Abraços eternos de amor e dedicação.
Esperança pintada nos olhos de quem abraça!

Mãe por nome, mãe por alma,
Alma de quem quer sofrer para que a semente germine
E que, com o verde das suas folhas, alcança a felicidade plena.

Muitos não têm,
Alguns têm mas não vêm o quão mágico é
Esperar sempre um sorriso, mesmo que escondido pela tristeza…

Magnifica é a existência,
A quem foi concedido esta ventura,
Encontrar à nascença uma água que eternamente dura…

Mancha-nos a alma,
Agarra-nos para sempre,
Eterna é aquela que nos deu tudo o que é e nos fez nascer!


(à minha Mãe)

06.05.2007

Árvore do Mundo


Árvore do Mundo

Os ramos de décadas, séculos, milénios, eras,
Entrecruzam-se e crescem livremente
Formando constantemente ciclos, nós, princípios e fins,
O velho dando sempre, voluntariamente ou pela força, lugar ao novo…

Dos robustos e infindáveis troncos nascem verdes e frágeis as folhas,
Que pela diferença e unicidade vivem de uma perfeição plena.
A cada uma foi dada uma ampulheta
E a cada uma foi confiada uma bússola.

Estas delicadas existências nascem para a Primavera,
E nelas espelham o verde dos campos e o azul do céu.
A determinação com que rodam para o sol e demandam a água da vida,
Faz variar os grãos da areia do seu tempo e faz girar os ponteiros do seu destino!

Mas o tempo é curto, porque o Verão traz o Outono
E com este o Inverno, o frio, a secura, o vazio…
São poucos os grãos, são poucas as gotas de chuva que sirvam de alimento,
A vida é breve, já se sente o derradeiro voo, o adeus ao eterno pedestal…

Vêm-se, no sono mais profundo, a descer
Do céu, do mais alto ramo, para o profundo do chão que as chama e engole.
O seu verde deu lugar ao doentio amarelo,
Que fogo se fez e tudo queimou até à terra negra e amarga.

Sobrepostas no chão num caos de corpos sem almas,
À espera de serem pisadas e levadas pelo vento que há-de varrer os seus nomes.
Na árvore do mundo a vida é um segundo, breve, efémero e imprevisível,
Viver é ser esse momento…

É ser a folha, a árvore e a página da história,
Que torna as estações em constantes Primaveras.
É ser sempre o sol e o céu e a água pura.
É brilhar até ao último grão que nos ordena: morrer!

É palmilhar todos os vales, montanhas e planícies,
Velejar todos os rios, oceanos e os lagos
Até encontrar o Norte,
O Sul, o Este e o Oeste e quem sabe muito, muito mais!

É preparar cuidadosamente o dia
Em que folha e ramo se larguem para sempre,
E nesse momento abrir as asas da alma
E voar mais além disseminando o verde onde ele nunca chegou…

Respirar o ar da descida
E ascender na nossa liberdade.
Ver o fogo do Outono como paixão
E o castanho como saudade.

É dar o último suspiro com a melodia do primeiro,
Cair como quem sobe e morrer como quem nasce.
É não desistir das cores, da música, da árvore e da folha
É ser o verde e o índigo eternamente, além do momento derradeiro…

28.04.2007





Sob o Pseudónimo de Poeta


Sob o Pseudónimo de Poeta

Se me perguntarem o que sou,
Sei bem responder.
Sou um amante do mundo e da vida,
Coisa material, onde o espírito basta para viver.

Não sou eterno neste corpo,
Mas posso fazer-me em tudo o que há fora de mim.
Quando inspiro bem fundo o perfume alvo do ser
Encontro um “eu” interior sem fim…

Beijo as faces dos anjos,
Cujas mãos de marfim me levam além do eu.
Descanso os olhos da alma,
Que fecho, guardando apenas a cor do céu.

Sob o pseudónimo de poeta,
Descrevo ciclos infinitos em torno do sol,
Enterro os meus pés nas areias do corpo
E busco a luz da essência sinalada pelo seu farol…

Sonho, palavra eterna,
Amor, sentimento inigualável,
Só sou poeta quando tenho ambos
No meu mundo, para muitos indecifrável…

Amo o Rio!
E a sua Água, que corre para o Mar!
Meus desejos são a caravela que parte da margem
E veleja para lá de onde o mar e o céu se conseguem beijar.

Eu sei quem sou,
Não sou mais que um reflexo na água oscilante,
Que com o tempo se acalma no fundo do poço,
Para me revelar um ser perfeito e brilhante.

Se me perguntarem o que sou,
Sei bem responder.
Sou um ser inquieto,
Feito para amar, sonhar, viver…

Lisboa - Azueira
2007

Escada de Beijos


Escada de Beijos

Levantou-se um vento quente
E um véu de areia envolveu o teu corpo.
Surgiste do seio do deserto,
Onde me tinha retirado, para me encontrar.

A tua aparição criou um oásis,
Que me libertou da miragem e da secura.
As frescas águas envolveram-me e então adormeci
Sob a sombra das verdes folhas e sonhei o etéreo céu.

Tomei o beijo que em deste na escada
Em que, degrau a degrau, te venho transportando
Com mãos de anjos, onde resplandeces brilhante,
O Diamante mais puro e translúcido!

Encontrei-me dentro de ti!
No meu deserto te fizeste a água que bebo.
E no meu silêncio…?!
Te fizeste a infindável melodia que me alimenta…

Vi-te vir voando entre as nuvens e o índigo,
Nas tuas roupas ebúrneas reflecte-se a felicidade,
No teu olhar desvendo uma linguagem só nossa.
Ele me fala de Futuro e me beija a cada degrau.

Não vou partir sem te levar Sol da Vida.
És mais luz do que o que roubei do céu
E escondi dentro de ti,
Para que ele fosse só teu e meu.

Adormece comigo sobre a areia
E deixemos que o mar nos leve,
Como duas pedras que rolam para o fundo
E se unem para que nem o criador as separe.

Beija-me a cada degrau!
Só assim deixaremos os nossos passos inscritos
Na escada dos beijos por onde só sobem os anjos,
Mas onde roubei um lugar para nos amarmos.

Bairro Alto – Lisboa
20.03.2007

O Sol e O Céu


O Sol e O Céu

Perguntaste onde escondi o sol,
E eu respondi-te assim:
"Escondi-o dentro de ti
Para o ter só para mim!"

Mesmo que brilhe muito além dos teus olhos,
Eu sei que ele não vai fugir,
Porque nas tuas viagens
Eu também vou partir...

Seguimos juntos,
Até ao infinito.
Seremos eternos,
Como estava escrito.

Eu e tu,
Sobre o universo,
Num abraço
De que não me esqueço,

Porque todos os dias
Eu te levo em mim.
Revejo então os teu olhos
Do principio até ao fim.

E então ficamos juntos
Sobre o universo,
Num abraço,
Nas letras de um verso.

Tu e eu,
Para sempre!
Tu e eu,
Para sempre!
O Sol e O Céu...

2007

Senhora dos Rios


Senhora dos Rios

O som das ondas traz-me a tua voz,
Na sua espuma surge a fresca Rosa
E o seu perfume eleva-se ao eterno céu,
Dispersando-se e envolvendo-me o coração.

Explode em mim uma sede
Que só as tuas vagas podem saciar
Senhora dos Rios, que correm para o mar,
Tu és a Água em que renasço.

No voo do pássaro da manhã
Voas tu nas suas asas ardentes,
Com o fogo da sarsa viva, que não se consome,
Mas que queima o sangue apaixonado fluindo nos corpos.

Fazes a máquina humana amar
E funcionar como mecanismo de relógio,
Onde há exactidão e certeza,
Minuto após minuto, infinitamente…

Assim na primeira estrela da noite
Brilhas resplandecente, fazendo arder o céu e a escuridão.
Guardas em ti os segredos dos Deuses do Olimpo,
Que revelas pouco a pouco ao escolhido mortal.

E essa voz, que me envias nas gotas do teu mar,
Dá-me nas mãos, de areia, o cálice da tua alma, a beber,
Cheio da fonte infinita do néctar das rosas,
Onde imaculada te vejo surgir.

Engole-me nas tuas ondas!
Eu me entrego a ti Senhora dos Rios.
Leva-me até aos mares que jorram de ti
E esconde-me no Horizonte!

Eleva-me contigo pela escada do etéreo,
Para sermos uma nova criação.
Nossas mãos, de universo, unidas para sempre
Num infinito e único ser.

Nazaré 24.02.2007

quarta-feira, julho 11, 2007

O Piano e A Guitarra


O Piano e A Guitarra


Podia ter sido só uma tarde de Verão, em pleno inverno,
Onde dois amigos se encontraram.
Podia ter sido só uma conversa de amigos
Onde as palavras se abraçaram.

Mas não foi…
Porque fomos o piano e a guitarra,
Cujas melodias se envolviam e apaixonavam
Na música que só nós, eu, tu e o rio escutávamos.

Apertei as tuas mãos,
E senti a tua cabeça poisar no meu ombro levemente.
Os nossos lábios nadaram de um para o outro
Como o rio a banhar a margem.
E éramos só nós, eu, tu e o rio…

Contaste-me então a História,
E disseste-me “Cativa-me” junto ao ouvido.
Eu obedeci como quem obedece ao céu,
Mas a vontade era minha.

Era a vontade de ser contigo.
Era a vontade de fazer com que nem a exaustão parasse os instrumentos que éramos os dois.
Era a vontade de ser banhado por ti a cada segundo que passasse.
Era a vontade nossa, a minha, a tua e a do rio…

20.02.2007

Tejo


Tejo

Oh, Tejo tu não tens sal,
Mas és mais Mar
Que muitos oceanos navegados por Portugal.

Diz-se que tuas águas têm magia,
Mas dizer não é saber a verdade,
Só quem as prova sabe quão forte é a tua alquimia.

Transformas os peixes em estrelas,
Do céu que escorre para ti infinitamente.
Fazes as margens em oiro, belas!
Fazes-me ser transcendente…

Dás-me o que não tenho.
Aguardas sempre a minha chegada,
Porque sabes quando vou e venho,
Desde que me deste nova morada.

Nascida de ti?!
Sem dúvida, é diferente.
Pois é a Ninfa das ninfas, que até agora já vi.
Tua filha mais amada!? Certamente!

20.02.2007

Escola


Escola

Do eterno verde apartado e trazido aqui,
O fado ditou que não haveria outro lugar.
Enviaram-me a sentir, e senti
De forma mais ousada do que a que pude imaginar.

Entre caras desconhecidas
Fui plantado e deixado a crescer.
Com tão poucas coisas vividas
Avistava já tanto para aprender.

E aprendi e cresci pela mão
De dedicados jardineiros,
Que aos meus ouvidos ainda sopram
Ventos prudentes e bons conselheiros.

Os meus olhos foram abrindo,
Pouco a pouco, lentamente.
O desconhecido pela espuma foi-se suprimindo
Fazendo a planta emergir da semente.

E eu fui-me tornando derivada
Com limite a tender para o infinito,
De braço no ar assentia à chamada
Deixando no percurso mais um dia inscrito.

Depois é a chegada,
É a sensação de mais um dia,
O portão da entrada,
O sorriso no olhar de quem nos diz bom dia.

É reencontrar aqueles que fomos descobrindo,
Os conhecidos, os colegas, os amigos, as paixões.
Os que regressam e os que partindo
Deixam saudosos os corações.

Ao toque para cada aula que se aproxima
Há um chamamento à aventura,
Um desafio à descoberta, que vem de cima
E nos lança no mar da boa ventura.

Aprendi assim que havia o futuro,
Como tempo verbal de cada conjugação,
Mas havia outro, que se tornava mais seguro
Ao fim de cada lição…

Ah e o intervalo!
O sol que explode pátio fora,
Que ilumina os sorrisos de com quem fá-lo
E que ainda brilha em mim agora.

E aquele cheiro que não é cheiro,
Mas é um perfume para quem o sente,
É a lembrança por inteiro
Dos lugares, dos momentos, da gente.

E os mil e um recantos,
Onde trocámos beijos!
Ah e os encantos?!
Acendam eles os desejos!

E a música embrenhada,
Até nas flores do recreio,
Não a esqueço por nada,
A essa que é Luz do meu enleio…

E a sensação de conforto e segurança,
De quem se esconde na fortaleza,
De quem redescobre os prazeres de criança,
Que pintam telas de beleza.

Não são só números e expressões
Ou letras formando palavras difíceis de dizer,
São eternas sensações,
Que ninguém há-de esquecer.

E tantas vezes só nas carteiras do fundo,
Ouvindo as explicações ao ritmo dos apontamentos,
As palavras criavam em mim mundos
Feitos na imaginação moldada em deslumbramentos.

Não havia só educação,
Nem apenas a velha disciplina.
Havia liberdade sem ser ilusão
Havia a vida futura alegre e espertina.

Tal e qual um edifício,
Era assim que me sentia,
A força do escolar ofício
Pouco a pouco me construía.

Acertando aqui,
Qualquer falha que apresentasse,
Acrescentando ali,
Qualquer coisa que faltasse.

E fui sendo,
Para agora ainda estar a ser
Fui crescendo.
(Tu escola nunca me deixaste perecer!)

Partilhei com tantos o que era
E com o que eles eram, também fui
Fiz o meu mundo quadrado, ser esfera,
Onde todo o frenesim matinal flúi.

E vou ter saudades quando partir,
Deixando aqui um pouco de mim.
Hei-de voltar para ao ver os pequenos e sentir
Que um dia também fui assim.

Hei-de voltar,
A esta que chamo casa.
Terei sempre lugar,
Onde pela primeira vez abri a asa…

Onde voei entre o conhecimento,
O desconhecido e o inimaginável.
Onde vivi o mundo a cada momento,
A cada linha, a cada folha de papel…

E é assim, meu amigo, que te conto,
Esta minha, tua, Nossa Escola.
Uma frase sem ponto,
Não houvesse sempre mais um dia para levar a vida na sacola…

2007

(3º lugar no concurso de poesia do Colégio Moderno 2006\2007)

Preguiça de Existir


Preguiça de Existir

Há dias em que me deixo arrastar pelas multidões,
Deixo de ter vontade.
Largo o desejo e as motivações,
Deixo que se aparte de mim a liberdade.

Vejo na minha preguiça de existir
Um erro para meros principiantes,
Que se perdem ao consumir
Ideias e lugares comuns tão diletantes.

Sigo quase como que hipnotizado,
Pela força mística da abstracção.
Os meus olhos são sugados
Para lugares invisíveis à razão.

E como explicar tal coisa, pouco usual
Perder assim o espírito e as verdades,
Para ficar reduzido ao instinto animal,
E às suas precárias necessidades.

E é impressionante a dificuldade de me libertar
E nadar contra a corrente,
Fazer face à multidão feita mar,
Que é essa onda de gente.

Sou nessas situações
Alma e corpo à deriva no oceano.
Evadem-se de mim todas as proposições,
Deixando-me um nada, vazio e plano.

Sem pensamentos.
Sem sensações.
Só os sofridos movimentos,
Regem as falsas emoções.

Dias em que mais vale morrer,
Não houvesse ainda brasas da chama ardente,
E iriam vocês ver
Que não nadaria nunca mais contra a corrente…

2007

O Sonho que Sonho Constantemente


O Sonho que Sonho Constantemente

O Sol explode!
Sobre o verde dos campos
E dispersam-se as nuvens,
Deixando que se veja o azul céu indescritível.
Meus olhos alcançam a liberdade,
De descrever o que vi, vejo ou ainda vou ver
Mas não sou nada, e essa é a minha maior felicidade!

Serei um número?
Um nome, uma palavra?
Serei gente, serei pensamento?
Muitos (quase todos direi) morrem sem o saber,
Porque não era uma designação que lhes importasse ter…

Queriam antes ser o “para sempre”,
O tudo, o nada, o pouco, o muito, o eternamente
Seriam coisas, seriam gente? Ah, isso é tão indiferente!

Ser e não ser,
Ambas bastam a quem não é,
Porque a vida só tem um sentido e sonhar mantém-no de pé…

Poder a cada dia,
Respirar os primeiros minutos,
Como se dos primeiros no mundo se tratassem
Com os olhos fechados pela força da nova existência.
(Ah e é tão bom pensar que se pode nascer todos os dias!)

Explodir como o Sol,
E ser as nuvens e os campos
E o céu azul indescritível, e os olhos,
Olhos com que vejo este meu mundo,
Que vai e vem e torna a ir e a voltar,
Que nasce todos os dias, cresce, evolui e morre quando a hora chegar…

E morre dentro de cada um
E renasce das cinzas do nosso âmago,
Do nosso interior profundo e bem guardado,
Faz-nos ser e não ser e, é tão bom viver!
Com o coração abraçado neste círculo redondamente fabricado,
Pelo engenho e arte de poetas celestes que nos permitem sonhar.

Dar espírito ao material!
Ser mais do que números,
Pontos, rectas, figuras, sólidos,
Nascer da água e correr no céu deixando um rasto resplandecente.

Ah como é bom ser eu!
Ah como é bom não ser nada
E mesmo assim ser mais que gente.
Sou feliz por ser o meu sonho, o sonho que sonho constantemente

2007

Chuva (dentro de mim)


Chuva (dentro de mim)

Não preciso de procurar,
O que já encontrei.
Há um perfume no ar
Que eu já cheirei.

Abra-se o firmamento
E caia a chuva fria!
Encha o meu corpo sedento
Do teu cheiro a cada dia!

Novos universos,
Explodem em nós.
Nos céus dispersos
Oiço a tua voz.

Vivo entre o céu e a Terra,
Só tu és o meu lugar.
O meu peito berra
Por te encontrar.

Leva-me até ao fim,
Voando sobre as nuvens.
Sê a chuva dentro de mim,
Para estares mesmo quando não vens.

Nada há além de ti.
És o limite e o Horizonte,
A água em que renasço
O teu corpo, a sua fonte.

Tenho o mundo,
O teu cheiro e olhar.
A felicidade como fundo,
Do quadro que vamos pintar…

2007

Crescer


Crescer

Sinto-me vago!
Sinto que cada dia que passa
Estou mais igual,
Como as águas de um lago.
Vazio, como uma casa devassa.
Abstraído quer do bem quer do mal!

Tenho saudades
De quando saia à rua a sorrir,
Como se tudo fosse perfeito,
O mundo cheio de liberdades…
Mas há coisas que não podem coexistir,
A não ser nos sonhos em que me deito.

Crescer é um passo para a morte,
E até ela chegar
E darmos a alma e o óbulo ao barqueiro,
Vagueamos ao vento do destino pela mão da sorte,
Para poder alcançar
Saúde, amor, amizade, dinheiro…

Invadidos por tamanha futilidade,
Que me recuso a acreditar que cresci.
Pertencer a este mundo tão diferente,
Só marca a necessidade,
De apagar o que já vivi
E correr da foz para a nascente.

Tenho fé e confio,
Deixo-me levar
Mas a luta também é minha.
Tento alcançar o invisível fio,
Que pode retomar
A vida que tinha.

Crescemos para sofrer,
Reparo nisso com o que sinto,
Apesar de já o ter dito o poeta.
Qual o porquê de crescer,
Caindo no caos e no labirinto,
Se nascemos sobre linha recta?

Demos os primeiros passos,
Tudo tão simples e elementar,
Tudo tão facilitado,
Sabendo sempre dos braços
Que nos viriam abraçar,
Com destreza e cuidado.

Nascemos na iluminada inocência,
Com naif sorriso.
Os olhos mal vêm a luz e as cores.
Somos seres sem experiência,
Aquela que tenho e não preciso,
Porque seria mais feliz e as cores seriam melhores.

Aos meus olhos é claro!
Até parece egoísmo.
Mas é complicado este passo,
Que por momentos comparo,
Ao salto para um abismo
Ou um buraco negro no espaço…

Ò áureos dias
De sol brilhante,
Nasçam com a manhã
Sem almas frias
Só o sorriso confiante.
E até amanhã!

2007

Eu, Tu e Nós


Eu, Tu e Nós

Eu não vou mentir,
O que sentir,
Não vou esconder.
O mundo gira à tua volta,
Pula e salta
Só para te ver.

Porque és diferente,
De toda a gente,
Que eu já vi.
Aqueces com amor,
Com um calor,
Que nunca senti.

E mesmo no escuro,
Mostras claramente
O Futuro,
Que há à nossa frente.

E nos teus braços
Perdido eternamente,
Aperto os laços,
Tão fortemente.

E quando
Estás aqui,
É como no
Primeiro dia em que te vi.

Vem dançar no céu,
Que é teu e meu
E de mais ninguém.
Vem mudar as cores,
Tornar as coisas melhores,
Dar ao mundo o que ele não tem.

Vem dançar noite inteira,
Só há uma maneira
De viver.
Vem, deixa-te levar,
Em mim podes confiar,
Vem reviver!

2007

Descalço Sobre a Calçada


Descalço Sobre a Calçada

Descalço sobre a calçada
Sua companhia é a lua.
A rua é a morada
E nem essa é sua.

Os olhos esfomeados,
Sem lágrimas para correr.
Os sonhos esgotados,
Sem nada que os faça viver.

(Passado, Futuro?)
Nem se pode questionar.
O presente já é duro
E pouco falta para acabar…

Abandonado é pouco,
Porque ainda haveria esperança.
Não se descreve o que o mundo louco
Fez a esta criança.

Brinca com o que vai encontrando,
Com uma lata coroou-se rei
E na sua inocência, brincando,
Vive sob uma só lei.

A lei que lhe deu este fado
E que também lho há-de tirar.
Só a Lua chorará o desgraçado,
Quando da desgraça se apartar.

Pena! Foi tudo o que recebeu.
Moedas, poucas viu
E o que com elas comeu,
Só deixou o estômago mais vazio.

Triste humilhação,
Para um ser tão pequeno.
Ambígua a sensação,
De o ver sempre tão sereno…

Aguardando a viagem,
Não chora nem desespera,
Para ele a vida é paragem,
Onde apenas se espera.

Há-de ter tudo em troca de nada!
Há-de ter, mas não aqui!
O menino descalço sobre a calçada,
A quem um dia sorri…

2007

Para Sempre Perdido


Para Sempre Perdido

Na estada molhada
Um homem caminha.
A alma encharcada,
O andar desalinha.

Não sabe quem é,
Nem para onde vai.
Falta-lhe a fé,
No olhar que cai…

Perdeu o futuro.
Perdeu a razão.
Viaja inseguro,
Palpando a escuridão.

E sem nada saber,
Vive o que não é.
Só sabe sofrer,
Nem se aguenta de pé.

Pobre coitado,
Espírito inquieto.
Não és amado,
Não tens afecto.

Lamento por ti,
Lamento o passado.
Aquilo que vi,
Chama-se ser mal amado.

Para sempre perdido,
Sem rumo certo,
De andar sofrido
E olhar deserto.

Vais e não voltas.
Dizes adeus.
De asas soltas
Voltas aos céus…

2007

Viagem Além do Horizonte


Viagem Além do Horizonte

Os meus desejos
Estão para além do horizonte.
Os teus beijos
São a ponte…

Que levanta o véu,
Que revela o imaginado,
Que se dissolve no céu
Em ti espelhado.

Ando perdido…
Até a sombra temo,
Mas o desconhecido
Desvanece-se ao bater do remo.

Ao longe, já lá vejo
Envolto em bruma,
O meu desejo,
Roubado à espuma.

Cheguei!
Apartei-me de tudo…
Nessa Terra Prometida me deitei
Observando o mar, mudo…

Só sonhava,
O que pudesse estar além do horizonte,
Quem sabe a água que me saciava
A brotar da sua eterna fonte?!

Não sou navegante!
Não tenho bússola ou astrolábio,
Olho o céu sem quadrante,
Sentindo apenas o sal beijando-me o lábio.

Gostava que minhas lágrimas fossem
O sal de ti ó mar.
Gostava que meus beijos voassem
E te soubessem encontrar.

Deixa-me navegar-te,
Sem tormentas nem sofrimento,
Que minhas lágrimas vão glorificar-te
Em vez de serem teu lamento.

Amo-te,
Como te respeito!
Abraço-te,
Aqueces-me o peito!

Sou teu,
Em ti me quero perder.
Quem te leu,
Sabe o que quero dizer…

2007

Borboletas


Borboletas

No princípio éramos o nada,
Éramos pouco mais do que podíamos.
A vida não nos tinha feito a chamada
E na ignorância e no silêncio vivíamos.

O peso enorme do mundo
Só se comparava ao da loucura,
Que nos invadia bem lá no fundo,
Deixando nos nossos olhos tristeza e amargura.

Nada do que fizemos até então teve valor,
Acções e gestos assíncronos e disformes.
Não fizemos nada a que pudéssemos chamar amor,
Pois nunca conseguimos estados emocionais constantes e uniformes.

Fomos apenas altos e baixos,
Sempre mais baixo do que alto.
E nos poucos altos que tivemos não vimos os fachos,
Que iluminam o fantástico planalto.

O lugar que se eleva da treva,
Lugar cujo brilho alvo e puro
Faz inveja ao paraíso de Adão e Eva
E onde viver é um conceito válido e seguro.

Contudo haveria de chegar
Um dia, em que a voz nos chamaria,
Para nos abrir os portões e mostrar
O que essa Terra nos prometia.

Essa voz foi a fusão e o misto,
Dos nossos corações que se encontraram
Algo que nossos olhos nunca haviam visto,
Mas logo se habituaram.

Trocámos palavras e sentimentos,
Eliminámos o medo e o receio,
Partilhámos segredos e momentos,
Fizemos crescer o nosso enleio.

Tememos e amámos,
Sem nunca desistir,
Persistentemente aguardámos
O que estava para vir…

E foi no dia marcado,
Que o destinado aconteceu,
Tudo o que havíamos guardado.
Explodiu e apareceu!

Palavras breves
E ditas simultaneamente.
É estranho saber que ao escrevê-las, consegues
Ter o que é procurado por muita gente.

Tens quem amas,
E és tida por quem te quer amar,
Tens o nome que chamas
E que te quer abraçar.

E com ele as borboletas batendo as suas asas,
Fazendo-te sentir a estranha sensação,
Que mesmo com a distância entre nossas casas
Acelera o ritmo do coração…

O sonho é realidade!
Distante e esquecida do início.
A paixão é a única verdade!
Amar é o nosso vício!

As borboletas voam,
Nossos braços se entrelaçam,
Nossos lábios se tocam,
Nossos desejos esvoaçam.

Criando felicidade à nossa volta
E elevando-nos para lá da montanha,
Deixando-nos caídos na relva do jardim, que nos solta
Da nossa natureza terrena e estranha.

AMO-TE!…não vou esconder,
Hoje não posso ficar calado.
Minha alma é pira acabada de acender,
Onde o fogo eterno não será apagado.

E tu és a minha vida,
A razão desta mudança,
Tu foste a minha saída,
Agora és a minha protecção e esperança.

Tu és o meu ser
E por isso só te posso respirar.
Tu és o lugar onde quero fazer crescer,
A enorme vontade de te amar.

Encontremo-nos brevemente!
Pois não posso aguentar mais,
Quero beijar-te eternamente,
Como o barco beija o mar ao sair do cais.

Foi a ti que me entreguei,
Amando-te por seres o tudo do meu nada.
És a Rainha da Terra com que sonhei
E que vejo entre os raios de sol da madrugada.

Meu alimento,
Minha razão de viver,
Meu único sustento,
Sem ti não sei mais ser!

2006





Rainha e Rei


Rainha e Rei

Seremos rainha e rei,
Dessa terra a que chamamos Prometida.
É algo que sei
Desde que te entreguei a minha vida.

Senhora dos meus céus,
Senhora dos meus sonhos de futuro,
Embrenho-me na floresta de teus véus
E perco-me no teu silêncio escuro.

No local, onde me perco
Em sonhos eternos,
Onde sei que ao amar-te não peco,
Nem tenho de fugir aos fogos dos infernos.

Apenas paz e plenitude.
O teu sorriso e o teu cheiro.
Nesse lugar de virtude,
Onde o sol nasce primeiro.

Onde a confiança
Suprime o medo
E onde não há guerra pela liderança.
Onde o futuro é o único segredo…

E não importa muito sabê-lo
Mas apenas saber amar,
Da forma que amo a tua pele e o teu cabelo,
O teu rosto e o teu olhar.

Vem sentar-te no trono,
Que ansiosamente te aguarda,
Vem dormir comigo o mesmo sono,
Abraçados até de madrugada.

Far-nos-emos eternos,
Escreveremos os nossos nomes na história
Dos que vivem os infinitos Invernos
E que ficam para sempre na memória…

2006

A Minha Poesia


A Minha Poesia

Eu sou o teu poeta,
Quando tu és a minha poesia.
Eu sou a alma inquieta,
Quando és a onda que perturba a maresia.

Chegaste, sorriste
E envolveste-me.
Sonhaste, partiste
E levaste-me…

Vejo-te à beira rio,
Falando com as correntes.
Chego, abraço-te, sorrio
E segredo-te palavras ardentes,

Cheias de desse fogo
Que não deixa de arder,
Peças de um jogo,
Onde o nosso sonho não pode perder.

Ter-te não é só um desejo,
É um tudo único e alcançável,
É sermos o quadro que vejo
No sonho mais eterno e admirável.

Vem até mim!
Durante a noite e a quimera.
Fazer do princípio o fim,
Da nossa vontade mais sincera.

Sinto que me tens,
Deixei algo em ti plantado.
Espero, sei que vens,
Recuperar o que te tinha roubado…

Um pedaço do coração,
Que me deste com as músicas daquele dia,
A mais fantástica recordação
Guardada nas notas de cada harmonia.

Músicas que ouvi até de madrugada,
Envolvido pelo sorriso, que usaste para me prender.
Vivi assim à espera da tua chegada
E do Sol que trazes para me aquecer.

Como é possível nos encontrarmos?
Terá sido o destino ou coincidência?
Talvez o facto de nos completarmos
Se explique com a alquimia de uma qualquer ciência.

Sou um novo ser!
Sou uma nova existência!
Fazes-me reviver,
Aumentas o sonho, a esperança e a persistência.

Quero que sejas tu a levar-me,
A tomar a minha vida,
Quero que sejas tu a mergulhar-me
E a mostrares-me uma saída…

Para o mundo paralelo,
Que pintei quando te vi.
Para o lugar inacreditavelmente belo,
Que ao sentir-te concebi…

2006
















Livro


Livro

Livros guardam segredos,
Guardam saudades,
Guardam medos
E ainda liberdades.

Escondem personagens
E contam histórias.
Ilustram viagens
E revelam memórias.

Descrevem paisagens,
Emanam perfumes,
Reencontram paragens,
Reacendem lumes.

São e não são,
Quando o queremos.
São um sim ou um não
Depende de como e quando os lemos.

Às vezes, fazem sofrer,
Outras são pura alegria.
Uns são dor que faz mesmo doer
Outros sentimento que contagia.

São vários mundos,
São várias existências,
São pensamentos profundos,
São religiões e ciências.

Dão vontade de ser,
Mas também de não ser.
Vontade de viver
Mas nunca de morrer!

Porque cada letra que é lida
É uma gota na grande taça,
Do alimento e da vida
Da fome e da desgraça.

Ainda te lembras do livro que te dei?
Não era também ele tudo isto?
É verdade que choraste, eu avisei
Só tive pena de não ter visto…

Porque haveria de te abraçar,
Como abraçava o personagem principal
A rapariga, que como eu te amo, ele amava
Com ímpeto e força sem igual.

Leio-te nas páginas
E amo o que leio,
Porque são essas páginas
As do livro do meu enleio.


2006




Chorar


Chorar

Quero chorar!
Mas não aqui, à frente dela.
Quero chorar!
Porque se fechou a última janela…

A janela para o mundo
Com que todas as noites sonhava em respirar
Desejo, que da alma oriundo,
Tentei com a vida concretizar.

Fecha-se talvez porque nunca me a tenhas aberto!
Onde estava perdida a cabeça
Para no sonho mais desperto
Ter ousado tão louca crença?

Vão, o café,
Onde se perde o olhar.
E só na bruma existe ainda a fé
Que tenho de te abraçar.

O que eu dava para ter e não ter
Só, e uma só lágrima fria,
Que com o seu fogo te fizesse ver
Como o peito se desvanecia.

Agora sei que nem sequer imaginas,
Ou que alguma vez concebeste
Que as coisas mais pequeninas,
Foram as maiores que já me deste.

Porque eu sou assim,
O meu muito é o teu nada
E onde há uma partida para mim
Há para ti uma chegada.

Às vezes, acho que já foi demais o que vivi,
Porque sinto a frustração das constantes derrotas,
Pois ao fim de tanto tempo ainda não vi
Nada para além do fechar de janelas e portas.

2006

Um pouco mais que nada…


Um pouco mais que nada…

Sou um simples sonhador
Vendo sempre o impossível
Vejo sombras de amor
Onde ele é invisível

E o que é feito de mim
Sonhando dia após dia,
Numa roda sem fim
De tristezas e rara alegria?

“Mea culpa”, penso eu,
E ao pensar sei da verdade,
Porque esse desejo é meu
E planta sementes de insanidade,

Por vezes tão doce
Outras, tão horrivelmente amarga!
Colhendo-me a alma a golpes de foice,
Ou espetando o peito com lâminas de adaga.

Mas por vezes a dor compensa,
Ao ver a esperança concretizada,
Quando se realiza o que o coração pensar,
Quando se tem um pouco mais que nada…


2006

O Lago


O Lago

Escuros passos
Marcam a batida do coração.
Inúmeros são os maços
De cigarros e perdição…

Trovões de irracionalidade,
Ribombam, fazendo tremer
A grande cidade
Que te fez sofrer.

Lugar de pecado infinito,
De poluição intelectual,
Onde se dilui o teu grito
No seu lago fantasmagoricamente real.

Revoltas-te com a perda,
Enfureces-te com a injustiça,
Essa eterna labareda
Que queima a sociedade submissa.

O que és tu?
Que tens para além de nada?
O que é a tua voz, para além do eco
De uma alma sem morada?

Olha desalmado,
Sou eu quem te o diz,
És árvore em lugar árido e desterrado
Onde não se enterra ou cresce a tua raiz.

E atrás desse fortaleza
Há uma fragilidade infantil,
O mundo engole-te com a sua grandeza,
Num gesto de demência febril.

É triste, é lamentável,
É uma realidade decadente,
Não ter a liberdade inalcançável
Que turba o lago dessa gente.

Mergulha, renasce
E leva-me de mim!
Onde está o mundo que idealizaste?
Toma a minha vida leva-a até ao fim…

2006

Dedicado a Ti


Dedicado a Ti

Quem me dera que aqui estivesses
Para te abraçar.
Quem me dera que aqui estivesses
Para te contar.

Tudo o que mudou,
Depois da tua partida.
Por momentos o mundo parou
E revirou a minha vida…

E só depois de tantos anos já passados
Noto a tua verdadeira falta,
Veio tudo nos momentos recordados
Daquela noite que já ia alta.

Só no outro dia percebi
Que afinal é fácil descrever,
O que no dia da tua ida senti
E não consegui dizer.

Por isso dedico, daqui em diante,
Um pouco do que faço, a ti
Que me vejas, do alto, ser um bom navegante
Como eu sempre te vi.

Que eu saiba cumprir a missão,
Que tomei sob a Lua,
Iluminado sempre pela recordação,
Que a minha vida é pela Tua.


2006

Bom Odor


Bom Odor

Um perfume paira no ar,
Vem de mim e dos que me envolvem.
Não é fácil de o explicar
Pois muitas coisas nele se dissolvem.

É um cheiro magnífico,
Com tanto de único como de universal.
Não vem de alguém em específico,
Vem sim de um lugar especial.

Cresce e liberta-se suavemente
Desse órgão, que bombeia a vida em frenesim
E que ao manter o líquido ardente
Ilumina as virtudes dos visitantes desse jardim.

Entre as árvores e as flores
Essa sensação se dispersa lentamente,
E há luz e há magia e há cores,
E há o odor que abraça toda esta gente.

Escorre da alma para o corpo abençoado
Qual catarata correndo infindável.
Faz crescer sementes em solo abandonado,
Faz perdoar até o imperdoável.

Faz pela força, pela vontade
E faz pelo sonho e pela fé,
Pois é um odor da eternidade
Do que foi, será e é…

Foi lá, muito no passado,
Quando os homens aprenderam a amar.
Foi no tempo do mais amado,
Que nos deu o seu aroma para nos salvar.

Por isso é aroma de Futuro,
É aroma de Presente,
É a partida de porto seguro
Para a viagem de vida de crente.

Pois é preciso crer
Para se ser perfumado,
É preciso gostar de viver
Para se ser amado pelo mais Amado…

Aprender com Ele o dom
Que é esta oportunidade,
De sentir o cheiro, ouvir o som
Das flores e dos pássaros da felicidade.

E é sentirmo-nos escolhidos
E é sentirmo-nos inigualáveis
E é sermos os preferidos
Dentre multidões infindáveis.

O jardim tem o seu cheiro mágico,
E nós o nosso tão mais vivo e cheio de cor.
O mundo lá fora é fatal e trágico
A nossa missão, é dar-lhe um rumo melhor!

E quando nos juntamos de mão em mão
Passa uma invencível energia por nós,
E quando cantamos do fundo do coração
A voz d’Ele é a nossa voz.

O perfume nos acalma,
O perfume nos adormece,
O perfume era o da alma,
De quem por lá estivesse.

Nesse jardim,
Nessa reunião,
Nesses dias sem fim
Com um povo em união…

(A todos os que estiveram no E.V.J. 2005\2006)


2006