
Escola
Do eterno verde apartado e trazido aqui,
O fado ditou que não haveria outro lugar.
Enviaram-me a sentir, e senti
De forma mais ousada do que a que pude imaginar.
Entre caras desconhecidas
Fui plantado e deixado a crescer.
Com tão poucas coisas vividas
Avistava já tanto para aprender.
E aprendi e cresci pela mão
De dedicados jardineiros,
Que aos meus ouvidos ainda sopram
Ventos prudentes e bons conselheiros.
Os meus olhos foram abrindo,
Pouco a pouco, lentamente.
O desconhecido pela espuma foi-se suprimindo
Fazendo a planta emergir da semente.
E eu fui-me tornando derivada
Com limite a tender para o infinito,
De braço no ar assentia à chamada
Deixando no percurso mais um dia inscrito.
Depois é a chegada,
É a sensação de mais um dia,
O portão da entrada,
O sorriso no olhar de quem nos diz bom dia.
É reencontrar aqueles que fomos descobrindo,
Os conhecidos, os colegas, os amigos, as paixões.
Os que regressam e os que partindo
Deixam saudosos os corações.
Ao toque para cada aula que se aproxima
Há um chamamento à aventura,
Um desafio à descoberta, que vem de cima
E nos lança no mar da boa ventura.
Aprendi assim que havia o futuro,
Como tempo verbal de cada conjugação,
Mas havia outro, que se tornava mais seguro
Ao fim de cada lição…
Ah e o intervalo!
O sol que explode pátio fora,
Que ilumina os sorrisos de com quem fá-lo
E que ainda brilha em mim agora.
E aquele cheiro que não é cheiro,
Mas é um perfume para quem o sente,
É a lembrança por inteiro
Dos lugares, dos momentos, da gente.
E os mil e um recantos,
Onde trocámos beijos!
Ah e os encantos?!
Acendam eles os desejos!
E a música embrenhada,
Até nas flores do recreio,
Não a esqueço por nada,
A essa que é Luz do meu enleio…
E a sensação de conforto e segurança,
De quem se esconde na fortaleza,
De quem redescobre os prazeres de criança,
Que pintam telas de beleza.
Não são só números e expressões
Ou letras formando palavras difíceis de dizer,
São eternas sensações,
Que ninguém há-de esquecer.
E tantas vezes só nas carteiras do fundo,
Ouvindo as explicações ao ritmo dos apontamentos,
As palavras criavam em mim mundos
Feitos na imaginação moldada em deslumbramentos.
Não havia só educação,
Nem apenas a velha disciplina.
Havia liberdade sem ser ilusão
Havia a vida futura alegre e espertina.
Tal e qual um edifício,
Era assim que me sentia,
A força do escolar ofício
Pouco a pouco me construía.
Acertando aqui,
Qualquer falha que apresentasse,
Acrescentando ali,
Qualquer coisa que faltasse.
E fui sendo,
Para agora ainda estar a ser
Fui crescendo.
(Tu escola nunca me deixaste perecer!)
Partilhei com tantos o que era
E com o que eles eram, também fui
Fiz o meu mundo quadrado, ser esfera,
Onde todo o frenesim matinal flúi.
E vou ter saudades quando partir,
Deixando aqui um pouco de mim.
Hei-de voltar para ao ver os pequenos e sentir
Que um dia também fui assim.
Hei-de voltar,
A esta que chamo casa.
Terei sempre lugar,
Onde pela primeira vez abri a asa…
Onde voei entre o conhecimento,
O desconhecido e o inimaginável.
Onde vivi o mundo a cada momento,
A cada linha, a cada folha de papel…
E é assim, meu amigo, que te conto,
Esta minha, tua, Nossa Escola.
Uma frase sem ponto,
Não houvesse sempre mais um dia para levar a vida na sacola…
2007
(3º lugar no concurso de poesia do Colégio Moderno 2006\2007)