sábado, setembro 09, 2006

Quando Eu Deixar de Escrever














Quando Eu Deixar de Escrever

Quando eu deixar de escrever
Hei-de deixar de respirar,
Hei-de deixar de ser,
Hei-de deixar de amar…

Instaurarei uma guerra entre a alma e o coração.
Um conflito, que se prolongará eternamente
Que me fará perder os sentidos e a razão,
Até o meu corpo ser uma casa decadente.

Ficarei sem dons nem talento,
Ficarei sem audácia nem capacidade,
Ficarei sem esperança nem alento,
Ficarei sem motivação nem vontade.

Serei um farrapo de tudo
E um farrapo de nada…
Serei cego, surdo e mudo,
Serei um corpo cuja alma foi levada.

Não terei mais como falar,
Como dizer o que sinto.
Serei um ser devasso, que se há-de arrastar
E sobreviver com as réstias do instinto.

Não verei mais o céu
Com os olhos de pintor.
Não pintarei mais esse eterno véu,
De luz e de cor…

Não voarei mais com os bandos,
Nem nadarei com os cardumes.
Não andarei a teus doces mandos,
Não arderei nas nossas paixões e lumes…

Serei alma branca e vazia,
Como as folhas em que não escrevo.
Por tudo isto, farei o impossível para evitar o dia
Em que a fraqueza me torne seu servo…

2006

Obrigado













Obrigado

Uma vez, a propósito de um dilema
Disseste-me do fundo do coração:
“Não cries um problema,
Arranja uma solução”.

E esse conselho inesquecível,
Guardei-o bem guardado,
Mantive-o bem visível,
Para facilmente ser relembrado.

A ele ainda juntei
Os teus exemplos de vida,
Na tua força, e coragem me inspirei,
Para concretizar uma saída…

De toda e qualquer dificuldade
Com a qual me deparasse
E isso suprimiu a infantilidade,
Que por teimosia ainda restasse.

Cheguei bem mais alto
E tão mais perto do que queria,
Ajudaste-me a dar o salto
E hoje chegou o dia…

De agradecer,
Tudo o que fizeste por mim.
Havia tantas maneiras de o fazer,
Mas achei que a melhor seria assim…

Juntando letra a letra, para escrever-te um obrigado
E dizer-te que tudo o que me deste está bem guardado,
No fundo da alma e junto ao coração,
Fazendo cada momento e palavra, uma recordação,

Do álbum de infância,
Que usarei de hoje em diante.
O futuro não é de ignorância,
Pois tive-te como comandante…

Que me deu apoio,
E nunca me faltou,
Que me ensinou a separar o trigo do joio
E nada me negou…

E com esse carácter incontornável,
Indicaste-me um mundo muito mais estável.
Devo-te mil obrigados por tudo o que passou
E sei que mais virá, porque apenas uma página se virou.

Um patamar se atingiu,
Mas que nada alterou,
Quem te disse o contrário, mentiu,
Pois para mim nada mudou.

Serás, para mim,
Sempre alguém especial.
O teu amor não tem fim
E isso torna-te sensacional.

Esta foi a única forma que encontrei,
Para te agradecer.
A estas palavras me dediquei,
Como tu, em tudo aquilo que te vi fazer.

Obrigado, mil obrigados…
Por todos os conselhos e momentos,
Por todos os ensinamentos sagrados,
Que em guiaram noutros ventos.

A eternidade é um lugar,
Que se alcança na mente de outro alguém.
Na minha hás-de o alcançar,
Como uma amiga, um anjo, uma segunda mãe…

2006

Tonight










Tonight

Tonight,
I want to hold your hand,
I want us bind so tight
By this feeling we barely understand

‘Cause when you love somebody,
You love it any way.
It doesn’t mind neither face nor the body,
‘Cause there’re other things that makes me stay…

Like the secrets of love
That you whisper in my ears.
Like the way you make me feel above
When you wipe my tears

And that’s how I understand
What you mean for me.
You’re my holy hand
That sets me free.

It may brew a storm
And the rage of the sea
But I can’t fell any harm
While you’re sitting next to me

You’re something I’ve never had before.
You bring me feelings that I’ve always ignored.
You’re the one I’m looking for
And when I hold I know I’ll have much more.

More of your passionate kisses,
More of your magic fire,
The things that my heart misses,
When we aren’t bind with that invisible wire.

2006

Prisão Perpétua















Prisão Perpétua


Presos a uma vida, que não tentamos mudar.
Imóveis esperando que alguém a mude por nós.
Do fundo da masmorra ouvimos alguém falar
E há algo de familiar na sua voz.

É a voz de todos os “eus” que já tivemos,
Que cantam os antigos ideais.
Todos os sonhos e desejos pelos quais nada fizemos
E que agora regressam como rivais.

Para nos afrontar o futuro,
Com imagens do que já passou,
Tornando o nosso andar inseguro
E trazendo de novo, o que o vento levou.

E vêem para nos torturar,
Para rir de nós que estamos acorrentados?
Ou vêem só para nos lembrar,
O quanto estamos errados?

Ao entregar assim a vida,
Ao ócio e à comodidade,
Num labirinto sem saída
E sem gota de liberdade.

Presos por correntes, como a mentira,
A hipocrisia e a vaidade.
Lugares de onde ninguém nos tira,
Porque no caos não há caridade.

Não há vontade de viver,
Muito menos de ajudar alguém.
Neste mundo só a maldade pode prevalecer,
Pois o homem não sonha mais além…

Os seus horizontes estão no dinheiro,
E outras coisas sem valor.
Nunca entendeu o que é ser verdadeiro,
O que é dar e receber amor.

Dar em troca de nada,
Com o coração altruísta.
Mas a esses de alma queimada,
Já nada lhes mudará a vista.

A esses, que já não têm salvação,
Deixai os seus olhos verem os enganos
E aos outros, que ainda têm coração,
Devolvei-lhes as vidas roubadas durante todos estes anos.

Para que possam voltar a viver
E fugir desta perpétua prisão,
Onde os outros ficam sem quererem saber,
Se existe redenção.

Por tantos pecados contra tanta gente,
Mas sobretudo contra si próprios.
Essa recordação tão ardente
Da qual não fogem nem com os seus ópios.

Porque o mal que se faz,
É pago a dobrar,
Porque quem magoa sem olhar para trás,
Não merece que os tentem perdoar.

E venha a falsidade e a hipocrisia,
Servidas à mesa com tanto requinte…
Na ementa da prisão são prato do dia,
Para o rico e para o pedinte.

São veneno que mata devagar,
Mas que os vai aguentando.
Porque ninguém morre sem pagar
E sofrer pelo que em liberdade foi arruinando.

Estragando a sua vida e de todos à sua volta,
Sempre acusando os fracos e desprotegidos,
Enquanto vivia à solta,
E os entregava à lei oferecidos.

Mas mais tarde ou mais cedo,
Ela havia de os apanhar.
Para lhes apontar o dedo
E fazê-los pagar.

Por tantos crimes sem fim,
Para realizarem as avarentas ambições,
Mas tudo para eles acaba assim,
Atrás das grades das prisões.

E não são algemas destas que queremos para nós,
Pois não abdicamos da nossa liberdade.
Poucos têm de ouvir a voz,
Que nos leva a sanidade.

Ressuscitemos pois então,
Enquanto ainda é a nossa hora,
Porque o abandono e a solidão,
Fica esquecido quando vamos embora.

Na alvorada da nossa saída,
No regresso às antigas convicções,
No momento da partida,
Para as renovadas paixões.

2006

Irmão










Irmão


Foi ao fim da noite, que me contaram
Uma grande novidade.
A solidão que me destinaram,
Não era para a eternidade…

A pequena dádiva estava ali,
Tão perto sem eu saber.
Quantas vezes desejei, pedi,
O que estava agora prestes a receber.

Confesso a incerteza,
O ciúme e a insegurança,
Mas isso é coisa da natureza,
Que não pesa na balança.

E quando nos braços o sustentei,
Na derradeira primeira vez,
Com facilidade me apaixonei
Pela pureza da sua pequenez.

Irmão meu,
Sangue meu igual,
Quantas vezes já foi teu,
Parte do meu mal.

Mas só a tua presença,
Enjeita o meu conturbado ser,
Teus olhos prevêem a sentença,
Que eu hei-de sofrer.

E então eu paro para pensar
E recomeço de outra maneira, por outro inicio.
Às vezes a rotina consegue nos cegar,
E a alternativa não vence sobre o vício.
Quando te vejo a dormir,
No teu sono profundo,
Vejo lugares para onde fugir,
Tão melhores que este mundo.

E entre arrufos e outras confusões,
Ainda me dás a força e a coragem,
Em silêncio te entrego confissões,
E a teu lado sigo viagem.

Só há um desejo em mim,
Que quero realizar,
Estar sempre para ti
E que nada te possa faltar.

2006

Demanda













Demanda

À procura da suposta perfeição,
Como cavaleiro na demanda de um Graal.
Quantas vezes me interroguei se se esconderia na constelação,
Que sempre interpretei como um sinal…

Após tantas pegadas marcadas na areia
E tantos degraus já trepados,
A minha taça está meia vazia meia cheia,
Com todos os passos bem e mal dados.

Será este o caminho para a atingir,
Com tantos avanços e recuos?
Será que chegamos a querer partir,
Sabendo que nos esperam trilhos longínquos?

Muitos ficam para trás,
Com medo de continuar…
É triste o que a ignorância lhes faz,
Mas esses não merecem lá chegar.

E quantos dos que ainda seguem,
Não continuam a duvidar?
Pois as dúvidas que os perseguem,
São como mãos que os tentam travar.

E no meio de tanta desistência
E de tanta dificuldade,
Será que um pouco mais de persistência
Não lhes revelará em coisas simples, um lugar para a eternidade?

No sorriso do outro dia?
No pôr-do-sol, que antecede cada luar?
Neles havia algo que não se via,
Mas que tinha o seu quê de espectacular.

Pequenas coisas em tudo dissimuladas,
Só visíveis com olhos de ver.
Olhos cujas paisagens observadas,
Desvendam segredos, que o desconhecido teima em esconder…

E depois de tanta procura,
Paramos e olhamo-nos num espelho antigo.
Vemos o reflexo de genialidade e loucura
E entendemos que a perfeição é um conceito ambíguo.

2006

Batom e Lantejoulas










Batom e Lantejoulas

Lá vai ela rua fora
De batom nos lábios e vestido de lantejoulas
O relógio aponta a hora
Do reencontro das tolas

É tempo de futilidade e de falsa aparência
Exibidas em mais um bar da cidade
Roupas apertadas e toda a maquilhagem mostram ausência
De pureza, candura e simplicidade

E como para tolas só tolos
Lá estão eles sempre a babar
Pena ser verdade, pois é triste vê-los
A escolher qual comprar

E muito se vive e é assim
Por todos os recantos e lugares
Trocam-se mentiras sem fim
Nos seus sedutores olhares

Promessas falsas e outros enganos
Nos quais eles não s importam de permanecer
Será que após tantos e longos anos
Ainda não conseguiram aprender?

Mas deixemo-los estar,
Viver assim, digo antes, morrer
Tristes existências que querem alimentar,
Com dinheiro e prazer

Poucos ainda têm identidade
E muitos trocam-na por nada
Esses que não sentem saudade
Da essência que lhes foi reservada

Contudo de entre tanta maldade
Devem haver sobreviventes
Alguma eterna divindade
Brilhando no meio das inconscientes

Aquela a quem se chama “perfeita”
E que valha o sofrimento da paixão
Aquela que é bela e não se enfeita
E por quem se dê o peito, alma e muito para além do coração.

2006

Quantas Vezes










Quantas Vezes

Já alguma vez tiveste o desejo
De seres algo que não és?
Já alguma vez sentiste um beijo
Que te fez tremer da cabeça aos pés?

Já alguma vez viste o céu
Com outra cor que não azul?
Já alguma vez pensaste que o norte que achas teu
É para outros o sul?

Já alguma vez te sentiste frio
Numa noite quente?
Já alguma vez foste rio
Que corresse da foz para a nascente?

Já alguma vez te sentiste sozinho
No meio de muita gente?
Já alguma vez paraste um bocadinho
E pensaste que és igual mas diferente?

Já alguma vez te mandaste ao mar
Como quem se deita numa cama?
Já alguma vez viste fazer chorar
Alguém a quem verdadeiramente se ama?

Quantas vezes pensaste, foste, fizeste, sentiste, viste tu, tudo isto
E não contaste a ninguém?
Quantas vezes querias ter pensado, sido, feito, sentido, visto
Mas não havia ninguém…?

2006

Last Words













Last Words


When I’m gone you’ll need me
After the pain goes away
This life became a game
And I’m just trying to play

Fighting to see one more smile
Trying hard to make you notice me
Looking for another while (with you)
Show you my love and set it free

Till the breeze embraces my harms
And the night kisses my face
Till I’m swallowed by the earth
Till I’m gone from my place

And then you’ll miss me
As I miss you sometimes
You’ll need my words
My poems and my rimes

The ones you say that are too sad
The ones that make me bleed
The ones I’ve written at my bed
With lack of air to breath

And then you’ll miss me
You’ll need my ocean and my sky
The ones you say that are too melancholy
Live euphoric in my mind

2006

Perfeição










Perfeição


Quantas vezes olhámos o céu achando-o perfeito?
Sabendo-o como obra do eterno criador que nada faz com defeito.
Então se o céu é perfeito e nasce do sopro de um deus,
Porque vês tu imperfeição nos meus olhos e não nos teus?

Triste sociedade, afastada do desenho original,
Um espectro sem cor, do divino ideal.
Olhos firmados egocentricamente nos seus “eus”,
De onde a perfeição é tirada a ferros pelo senhor dos céus.

E esses senhores sem virtude enchem-se de raivosa inveja,
Não suportam que na aparente imperfeição, a perfeição se veja.
Tudo o que foge dos cânones para eles é inferior,
Mas deixa nascer o tal ser, que lhe havemos de dar amor.

Nada é perfeito como uma criança,
Que a tantos enche de alegria e esperança.
Aos olhos de muitos não é belo e perfeito,
Mas é ele que te faz sorrir e te acalenta o peito.

A ti, cujos olhos tudo vêem com paixão
E tens coragem para amar os que a diferença deita ao chão,
Não dá o mundo o teu devido valor,
Mas os seus sorrisos tão especiais compensam o cansaço e suor.

Falas deles com uma alegria na face apaixonada,
Não há nada que te demova desse ideal. Nada!
E com aquela perfeição só neles encerrada,
Te tornas tu mais perfeita entre os que não são nada…

2006

Moda













Moda

Como é bom ter quem nos diga como ser igual,
Como ser a cópia da cópia de um ideal,
Que alguém lançou ao mundo com motivação tão nobre,
Que é usado e abusado até pela mente mais pobre.

Falsos estilistas que comandam a troco de glória,
De valores monetários, de um nome na história.
Enquanto os seguidores seguem sem compreender,
Que o estilista não veste o que lhes quer vender.

Roupas para alma, que a deixam mais nua,
Há mendigos mais bem vestidos deitados pela rua.
A pobreza do corpo é a riqueza do seu ser.
Perde-se na vaidade a razão de viver.

E quem passa pela “passerelle”, são modelos descrentes,
Não acreditam no que vestem, mas são influentes,
Porque vende a roupa do espírito pela beleza exterior,
Àqueles seres amorfos sem qualquer valor.

As montras das lojas são ilusoriamente atractivas,
Tanta escuridão e vazio escondidos nas cores mais vivas.
Logo desde a porta o ser fica hipnotizado,
É despido de sentido, apagado e silenciado.

E depois vem a inveja do que o outro tem,
Deseja, a roupa do indivíduo que não é ninguém.
Atropelam-se mutuamente por trapos inúteis,
Não vêm aos espelhos os seus aspectos fúteis.

E nada desta moda faz realmente o mundo girar.
A evolução está no bolso, de quem nos anda a enganar,
Mas ninguém faz nada, nem de olhos abertos.
O conformismo esconde os iluminados e os seus intelectos.

2006

Redundâncias e Circularidades



Redundâncias e Circularidades

Respiram-se redundâncias e circularidades,
Nos olhos das gentes das nossas cidades.
Repetem constantemente o mesmo movimento,
Criam um filme em “loop” de um só momento.

Há indiferença à mudança.
Há pouca fé, pouca esperança.
Há pouco desejo de sair do mesmo rumo.
Há pouco desejo de reerguer o mundo sem fio-de-prumo.

Fotocopiamos dias, anos, séculos da mesma vida.
Corremos num labirinto sem nenhuma saída.
Olhamos um espelho e não vemos o futuro.
Pisamos terreno de diferença e achamo-lo inseguro.

E é só em dias em que o vazio é total,
Que sentimos os erros da existência tão sempre igual.
Dias passados às voltas no mesmo lugar,
Noites passadas a ver as alterações do luar.

E o porquê de tanta redundância?
Vidas que se apagam sem relevo ou importância.
Tanta passividade…
Tanto saudosismo, tanta saudade…

O passado não leva a lugar algum.
Deve ser apenas guardado em fotos de um álbum,
Que só se retira da prateleira para não voltar a errar
E não que se usa como ponto de partida para sonhar.

Porque o sonho, esse pinta o futuro,
Leva-o por terreno firme e seguro,
Dá-lhe nova forma e nova cor,
Dá-lhe novo cheiro e novo sabor.

E quem provar o futuro esquece os círculos da vida,
Vira os olhos para outro local com uma visão evoluída,
Sonha com a diferença e realização pessoal,
Sonha em ser ele mesmo e não mais um igual.

2006

O Cego Que Vê













O Cego que Vê

Luz.
Ofusca os olhos. Não posso ver…
Mas oiço, oiço-os vir,
Com os corpos deambulando na descrença.

Consigo cheirar os olhos e as lágrimas.
O desprezo e amargo cinismo,
Que nelas se dissolvem e que os deixam tão amorfos
E sós no meio da multidão.

Os meus sentidos aguçam-se,
Guerreando contra quem os deseja suprimir.
A vontade é de me transcender,
de sair nas ondas de um mar imaginário…

Sente-se o frio que deles emana.
Vazios! Vazios como folhas onde se escreve e não se lê.
Apartados da singularidade e da própria vontade
Guiados pelo o que eu menos quero ver.

Sentados, cumprem ordens de mãos maiores,
Mas deixam entre dentes fugir evoluções interiores.
Estão descontentes!
Mas desconhecem que a sua rebeldia é contra o “eu” dos seus espelhos…

Desconhecem mas estão colados à terra suja e vulgar,
Não se aventuram nem querem dentro de si viajar!
Têm tudo e nada lhes é negado...

Mas falta! Falta a vontade, o desejo e a paixão
E é por isso que se sente o cheiro,
Da partida de uma antiga alma,
Que se evadiu e que entra no mecanismo fabril de substituição.

Mecanizados e ligados à central,
Onde ninguém escapa e todos estão ligados.
É difícil a liberdade quando vivem assim acordados,
Mas em sonhos a libertação é possível.

Tão querida…tão esquecida…
E sempre tão mal amada,
Talvez haja quem a ame mas é engolido pela tendência instaurada
Que os enterra e pisa na lama social

Vistos como monstros pelos que verdadeiramente o são, Por aqueles a quem um universo entra pelos olhos,
Mas pouco dele sabem reter.

Censura é história de livros,
Mas há quem a faça reviver cegamente.
Deixam-se levar pela corrente,
Que os pretende afogar eternamente.

Não vejo… Mas oiço e cheiro!
E não é a isto que quero cheirar
Prefiro ser monstro apartado da lama
E poder voar,
Ser,
Ter,
Viver,
Sonhar
Até onde o vento me levar

2006

Mais Uma Viagem










Mais Uma Viagem

Cai a chuva da noite,
Na estrada deserta.
Espero pelo autocarro,
Que chega na hora certa.

A vida não tem segredos.
E os que tem vai-me os contar,
Para afastar de mim os medos,
Que me querem agarrar.

Desço na última paragem
E sigo até ao meu destino.
Trago na bagagem
Um sonho libertino.

Perco-me em pensamentos
De dias bem passados,
Remexendo em momentos,
Por nós tão bem guardados.

E volto da nossa quimera,
Onde muitas vezes me perdi.
Mas hoje acaba a espera,
Que eu fazia por ti.

Mais uma viagem,
Ao centro do teu ser.
Mais uma imagem,
Que não quero esquecer.

2006

Vive e Aprende









Vive e Aprende

Houve quem dissesse que o Mundo era quadrado.
Houve quem navegasse o mar nunca antes navegado.
Houve quem descobrisse o que há para lá do horizonte.
Houve quem escalasse o mais alto monte.

Houve quem fizesse o impossível.
Houve quem visse o invisível.
Houve quem voasse de mil e umas maneiras.
Houve quem ateasse as mais frias fogueiras.

Houve sempre às mãos deles ou delas
Feitos difíceis de igualar.
Quer em terra firme, quer em aviões ou caravelas
Eles souberam sempre lá chegar…

Com razão e sabedoria,
Ou com frieza e violência.
Havemos de o perceber, quando chegar o dia
Da vida eterna ou da infernal demência.

Outros hão-de vir para descobrir o novo mundo.
Há-de vir alguém que mergulhe mais fundo,
Alguém que voe mais alto,
Alguém que atravesse o oceano só de um salto.

Alguém que tenha aprendido com os erros do passado.
E que não os volte a cometer…
Que passe a porta para o outro lado,
Sem ter medo de se perder.

2006

Tarde













Tarde

Abraçados sobre a relva fresca, acabada de cortar,
E sob o azul céu sorridente.
Eram dois corações que só se queriam amar
E a que tudo para além um do outro lhes era indiferente.

A tarde foi um dia passado em poucas horas…
Foi manhã com o sol nascente,
Que se moveu sem demoras
E trouxe a noite de paixão ardente.

E havia um sorriso maroto,
A cada brincadeira.
Havia amor, um pelo outro,
Cada um à sua maneira.

Tudo era perfeito,
Tudo era deles…
O vento levava o preconceito,
Beijando ao de leve as suas peles.

Amam-se como são.
E nada mais precisam.
Sentem-se cheiros doces, de Verão
Que só a eles os visam.

E aquele jardim foi paraíso,
Onde se fez a criação.
Ela foi Eva sem aviso
E ele o jovem Adão…

De mãos dadas rua fora,
Não escondiam a alegria
De cada minuto de cada hora,
Vivida nesse dia…

2006

Incerteza







I


Incerteza

Uma incerteza persiste…
E nada contra a maré,
Do mar do olhar triste,
Que submerge a tua fé.

Sentes-te tão confuso,
Nesta estranha situação,
Como se um fuso
Te espicaçasse o coração.

Estavas a caminho do céu,
Mas acabas de tropeçar.
Cais para o lado,
E voltas a pensar.

Mergulhas profundo,
No corpo interior,
Bates bem no fundo,
Junto às dúvidas de amor.

Embrenhado numa floresta,
De dúvidas irracionais.
Juras que depois desta,
Não as haverá mais.

Quere-la só a ela,
É ela o teu caminho.
Olhas o futuro pela janela,
E vês o quão és pequenino…

Mas hás-de crescer.
Forte e apaixonado.
Teus olhos só a hão-de ver,
E só a ela quererás a teu lado.

Sobe de novo a escada!
E não voltes a cair…
Ela é a tua caminhada,
É por ela que vais subir.

2006

Teatro













Teatro

Desmascarem-se!
Como o fariam no fim de uma peça de teatro.
Desmascarem-se!
Já no primeiro acto…

Tirem essas máscaras!
Tão ilusoriamente reais.
Tirem essas máscaras!
Mostrem as vossas verdadeiras caras aos demais.

Tirem as infinitas máscaras,
Que têm vindo a empilhar.
Essas falsas caras,
Que vos ajudam a ludibriar

Por de trás de tantas cores e sorrisos,
Está a vaidade, o egoísmo e a ganância.
Feições atraentes que disfarçam a malícia e os cinismos,
Dos que vivem da hipocrisia e da arrogância.

E eu? Também vos tiro a fantasia…
E vêm logo indignados perguntar o que fiz…
Meus olhos vêm entre a negra magia,
Que os faz chorar e que assola o meu país

Agarro nas máscaras
E queimo-as aos olhos de toda a gente.
Ainda vejo algumas lágrimas,
Alguém que fica, com a máscara que mente…

2006

Trovoada e Chuva









Trovoada e Chuva

Lá fora, está a trovejar…
E eu cá dentro desejo ter-te para me abraçar,
Para me fazeres esquecer cada trovão
E acenderes a fogueira do coração.

Aquele fogo tão quente
Tão forte, aromático, atraente,
Que dá vontade de beijar a alma renovada.
Resultado daquela tarde chuvosa, mas abençoada.

A cada gota de chuva um beijo…
Com vida e força torrencial.
Não é com os olhos que te vejo,
Pois a sua visão é já tão superficial…

É preciso olhar mais longe,
Pelo telescópio do sonhador.
Para descobrir onde o tempo esconde
O nosso baú de amor.

Pois dentro dele está um mundo infinito,
Para onde saltaremos abraçados.
Não disse a ninguém mas será dito,
Que somos dois espíritos apaixonados…

2006

quarta-feira, setembro 06, 2006

quente













Quente

Agora estou quente,
Porque estou perto de ti…
Agora sou diferente,
Porque estás em mim…

A vida anda em ciclos
Em rotações repetidas.
Aprendemos a escolher caminhos,
Pela experiência das experiências vividas

Confusão mental?!
É uma expressão desapropriada.
Imaginemos simplesmente o presente como o local,
Onde a nova vida é fundada.

E o futuro…?
Esse é feito de incerteza.
Às vezes um porto seguro.
Outras, frágil protecção de insegura fortaleza.

Mas hoje estou bem atracado.
Então que venha o vento e a maré-alta,
Pois daqui não serei levado,
Porque cá tenho tudo o que me faz falta.

Agora estou quente,
E sou alguém…
Com a alma diferente,
Da que muita gente tem…

E é tão bom ver o brilho
Desses olhos! Desses olhos tão só teus.
São farol por onde guio,
A alma que reside nos meus.

2006

a rosa










A Rosa

Os campos verdejantes e extensos anunciam tempos de luz,
As árvores esguias e nuas agitam-se na calma do vento,
E é este o ambiente quente, atraente que me chama e seduz,
Enquanto o dia passa vagarosamente lento.

O sol eternamente brilhante e senhor do céu
Faz resplandecer o corpo e alma de quem se deixa enfeitiçar.
Pequenos repuxos jorram água pura e translúcida que cai como um véu.
E tudo o que já foi escuro renasce para perdurar.

E o coração? O coração também acorda fresco e restabelecido.
As batalhas foram muitas e muita foi a dor.
Tantas vezes andou moribundo de olhar ferido,
Tantas outras vazio, perdido e sem amor.

E não é só um anúncio, mas um novo começo,
Uma nova flor que nasce tão doce e ao mesmo tempo tão misteriosa,
Na mesma terra onde se enterrou uma vida virada do avesso
Nasce agora a mais perfeita rosa.

Com um perfume adocicado e apaixonante,
Sem espinhos ou imperfeições.
Uma beleza tão brilhante
Nascida de dois corações.

E é por isso que hoje não me vou picar
Nessa perfeição tão delicada.
O sol já brilha no meu olhar,
E isso significa o início da caminhada.

2006

a catástrofe somos nós




A Catástrofe Somos Nós

(poema premiado no concuros de poesia do Colégio Moderno 2005\2006)

Assustam-nos as manchetes dos jornais onde lemos:
“TSUNAMI MATA MILHÕES”
Vêm-nos à memória as perdas que, tanto tememos
Trazidas por vozes sofredoras, imagens desfocadas e indesejadas recordações

Tamanho é o medo, o receio e o temor
Que irrompem até no sono dos que só assistiram na televisão
Sequências rápidas e perturbantes de destruição e horror
Que espetam lanças de angustia no coração

Mais tarde, surgem os estudos e as razões para explicar o sucedido
Diz-se que se podia ter evitado tudo (que a culpa também é do Homem)
Que podia ninguém ter morrido

Mas morreu e a dor demora a deixar os olhos de quem chora
Fazemos males sem pensar
E só nos lembramos disso quando vemos alguém ir embora

Quem não se lembra de New Orleans a cidade submersa
Porque a força de um dique não bastou
Era sabido que em caso de catástrofe a consequência seria essa
Havia dinheiro para a evitar, e o Homem onde o gastou?

Guerra, custa ouvir essa palavra tão dura
A destruição de lugares e inocentes
Bombas Atómicas concretizando a vil loucura
Do império de gananciosos inconscientes

E quem paga a conta afinal?
É o Homem? É a Terra?
Ou será que não podemos pôr as coisas assim?

Somos o ser mais dotado
Pondo e dispondo à nossa maneira
Impomos o nosso reinado
Sobre um mundo que vamos tornando numa gigante lixeira

Será que não vemos?
Talvez tenhamos criado uma realidade mais agradável ao olhar
Acho que todos sabemos
Mas há quem não se queira preocupar

E parecendo frieza de um jovem escritor
Vejo a fome de riqueza e a ganância vencerem sobre a vida e o amor

Batalhamos connosco e com mais nada
Somos parte da natureza, embora evoluída e modificada
Mas esquecemo-nos disso todos os dias
Votando e elegendo governos de pessoas arrogantes e frias

Tão frias que permitem que a temperatura aumente
O gelo derreta, que o mar cresça e que a onda siga em frente
Arraste tudo e deixe somente a dor…
Será que já sabem agora quem é o culpado de tanto horror?

2006