
Na melodia sem rumo que toco,
Nas notas com um sentido só meu,
Encontro espaço para criar tanta coisa…
Deixo correr nestas cordas alguma cor,
Depois à cor dou forma e um nome,
Um tom e um propósito, um tempo
E talvez até um pouco de magia.
Deixo que tudo se misture e se junte,
Deixo vibrar cada parte de mim
E vejo como tudo se enlaça no vento,
Ascende flamejando o céu em volta
E torna a descer até chegar a mim,
Envolvendo os meus dedos imóveis,
Beijando as mãos que sonham
E percorrendo a minha pele
Até entrar no meu corpo, no sangue,
Até que se fixe nos meus olhos
E seja as palavras da minha boca.
Enquanto este meu mundo gira
Todos os outros param sem razão
E só o meu coração bate eufórico,
A minha voz é um espírito livre
E nada cala este poema de sons!
Viajo nas suas partituras, neste barco
Que fiz com melodias e silêncios
E a que dei a rota do infinito…
Quando um dia, depois de muitos dias,
Eu for parte desta eternidade,
For um só com a velha madeira
Que alguém esculpiu para eu sonhar,
A guitarra que hoje toco para o céu,
Será pedaços do futuro que espera
E memórias do vazio onde me sentava
Fazendo vibrar a alma com o metal,
Ressoar a voz na frágil madeira,
Numa caixa de sonhos e segredos,
Nas linhas de um braço solitário
Que alguém me deu para me abraçar
E me deixar ser diferente…
Anjos
28.04.2009