quinta-feira, maio 22, 2008

Espelhos


Espelhos

Atravesso a rua calmamente
E olho perdido as montras.
Diluído no ondular da gente,
Porque não me encontras?

Caminho alegre na minha tristeza
E deixo que a chuva seja o que falta de luz.
Absorvo cada sorriso e a sua beleza,
Deixo-me levar pela corrente que conduz…

Oscilo, observo e então prossigo,
Porque cada corpo tem um destino,
Como páginas de um livro antigo,
Onde me lembro de ser menino…

Trago o esquecido para tão perto
E choro o sofrido para longe de mim.
Deixa estar o livro bem aberto
E deixa folhas para contar o fim…

A chuva cai incessante
E as lágrimas fazem rio,
A tua falta é constante,
A tua ausência é o frio.

Olho-me nos mares de água
Observo-me, sinto-me a mudar.
Estou aqui à beira mágoa
E és tu quem estou a contemplar!

Procurei-te por toda a rua,
Nos cafés e nas esplanadas.
Esperei que chegasse a lua,
Esperei as luzes serem apagadas…

Sem medo e sem receio,
Seguro do que a noite traria.
É de ti que estou cheio,
És tu quem faz a noite dia.

Porque há fogo dentro de nós
E lenha dentro de cada ser,
E enquanto não formos sós
Há chama para nos acender.

Há o corpo fervente,
Há inspiração e sonho,
Há a palavra eloquente
E os versos onde a ponho.

Há um eterno elo de ouro,
Entre os do céu e os da terra.
Há pobreza no maior tesouro,
Há paz numa qualquer guerra.

Sente o sorriso dessa criança,
Que abraça a mãe ao teu lado.
Sente a felicidade que alcança
No infinito sabor do seu gelado.

Coisas tão insignificantes,
Para um mundo que não tem lugar.
Enquanto nós geramos diletantes,
Um dia com destruir outro com criar.

Até que alguém há-de acordar
E descer a mesma rua triste.
Navegar nos outros, navegar
E encontrar a verdade que existe…



Lisboa
22.05.2008


(à Joaninha, por me ter feito encontrar um dos meus espelhos que anda diluído no meio das gentes e perdido nas ruas...beijo)

quarta-feira, maio 21, 2008

Cores


Cores

Reaprendo as cores do mundo,
Em todas as suas tonalidades.
Mergulho azul no mar profundo,
Esqueço negro as futilidades.

Sangue fervente de vermelho,
Amarelo mágico de fim do dia.
Cara e corpo a mudar ao espelho,
Peço tudo o que queria…

Venha o medo e a incerteza,
O roxo do pecado e da dor.
O verde esperança e beleza
E todas as cores donas do amor.

Têm todas vida em mim,
Em qualquer ordem e lugar.
Tenho o princípio, quero o fim.
Só sonho o verbo chegar!

Quero o dourado de um rei,
Para dar à mais pura das rainhas.
Quero o céu e tudo o que sempre sonhei,
Que todas as cores sejam tuas e minhas!



Bandalhoeira
17.05.2008

(à minha "amiga colorida" que me traz todos os dias o amarelo do fim do dia, com um grande beijo azul)

segunda-feira, maio 19, 2008

Na Noite Escura


Na Noite Escura


Na noite escura
Você procura
Alguém que você amou…
E a vida dura,
Segura
Quem você não agarrou…

E você procura
No meio loucura
E não encontra ninguém.

Busca então a fé,
Que é
Razão para viver,
E você quer regressar
E amar
Quem o faz renascer.

E você procura
No meio loucura
E não encontra ninguém.

E aí regressa,
E achando que é dessa
Você procura melhor.
E o seu amor
Voltou,
Só p’ra você.

E você procura
E no meio loucura
Afinal encontra alguém…

Que ama você…

19.05.2008




À Mariana, grande apaixonada por esta letra, que deixo com a data especial de hoje =)


Beijos e Parabéns





Diário de Bordo


Diário de Bordo

Olho as horas demoradas,
Pouco falta para o meio-dia.
Vejo as semanas passadas
E repenso quem seria…

As decisões de um Passado
E as escolhas do Futuro,
Deixam algo marcado,
Tiram algo seguro.

São um quarto para o fim,
Da vida que pode ser tão breve.
Procuro redefinir para mim,
Este fardo nada leve.

Carregando às costas o tempo
E no peito a saudade,
Eu penso no movimento
Da perpétua verdade.

Tenho um caminho a escolher,
Um universo de opções.
Tantos textos para escrever
E um infinito de sensações.

Embarco na viagem
Para um desconhecido desejado,
Estamos todos aqui de passagem
E todos com um legado.

Debaixo da almofada
Guardo sonhos e o diário de bordo,
Uma vida recordada,
Por palavras em que acordo.

Todas as manhãs,
Todas as noites também,
Eu vejo almas vãs
E corpos sem ninguém.

Mergulho no oceano
E morro sem ar.
Vida no branco pano
Das velas, que hei-de rasgar…

Hoje mudo a direcção,
Viro o leme para o céu,
Tenho a minha ressurreição,
Ergo-me do meu mausoléu.

Vamos para o sempre renovado,
Eu e quem me saiba amar.
Tempo e espaço apagado,
Só mar para navegar!

Não há uma só corrente
Que me possa prender.
O peito é ardente
Ao ponto das ondas fender.

Então rompo as vagas,
Rasgo o peito para viver,
Tudo o que tu tragas,
Tudo o que em mim queiras ser…


Caparica
15.05.2008

Assassino da Monotonia


Assassino da Monotonia

Penso constantemente em verbos que se desvanecem,
Em viver, amar, sentir e em tudo o que dai se deriva.
Penso constantemente e não vejo porque se esquecem
E se apagam da existência, só por si já tão esquiva.

Ensino e procuro apreender as minhas matemáticas,
Interrogando os olhos de quem não me ouve nem vê.
Tentando encontrar razões e justificações práticas,
Provavelmente nada mais do que um porquê…

Sou julgado, assassino da monotonia,
Homicida da plenitude e ignorância.
Aquele que desmascara a hipocrisia,
Aquele que rouba o dinheiro à ganância.

Tenho esperanças de outros futuros,
De outros verbos, pessoas e conjugações,
Espíritos que saltem novos muros,
Almas onde se possam escrever novas lições.

Algoritmos de verdades absolutas,
São chão estéril e de pouco alimento.
E essas mentiras que amas e escutas,
São falso alívio para o puro sofrimento.

Não há uma regra que possa reger o ser,
Não há um lugar e um céu perfeito para alcançar.
Só há o presente para que o faças crescer,
E uma morte que deixe a voz eterna para te cantar…



Caparica
06.05.2008