sexta-feira, abril 25, 2008


Perdas, Decepções, Traições e Outras Vitórias

Perdas, decepções, traições e outras vitórias,
Mil duras situações mil e uma outra histórias,
De tempos e momentos para esquecer,
Dias cinzentos, o céu a chover.

Negro, escuro, noite, segredos do breu,
Caminhos pouco seguros, no universo que sou eu…
Andando deambulante, vida perdida na hora
Morte constante, sangue a correr corpo fora.

Espeta o punhal fortemente no eu lírico,
Morrer como animal, sentimento empírico.
De joelhos sobre o chão em que não morri,
A morrer sem justificação pelo mal que não cometi…

Mas o morrer de hoje é o nascer amanhã,
Às vezes a lógica foge e faz a razão coisa vã.
Distante de semânticas e significados mesquinhos,
Renasço em forças quânticas de universos vizinhos.

Com a energia de um sol que há muito explodiu,
Preenchido pelo fole do ar que alguém expeliu.
Sopro de vida significado para o ser,
Porta de saída que do céu veio descer…

Abre-se para o mundo do futuro mudado,
Em apenas um segundo o sofrer é levado.
Não há rimas possíveis entre bons verbos e más pessoas,
As coisas plausíveis são sensações em tudo boas.

Já perdi e ganhei, fui afastado da verdade,
Traído, nunca paguei com a mesma liberdade.
Podia não ser eu, mas não era assim ninguém,
Porque eu vivo do céu e do que está mais além…

E vou vencendo, aquele que me quer derrubar,
E vou vendo, o que o mundo tem para me dar.
Acabo por não comprar o que tenho para oferecer.
Espero só alguém que queira amar, dar e receber.

E continuo a viver, amar e a sentir,
A chegar e a querer, a lutar e a partir.
E eu eterno ressuscito e eu uno me faço,
O peito solta o grito e o corpo dá o passo!

Na direcção do índigo, céu azul misterioso,
Parto migrante para o sul esperançoso,
De ter a única, divina e absoluta verdade
E algum dia numa esquina eu cruzarei a eternidade...


Caparica
23.04.2008

terça-feira, abril 22, 2008

Menina do Mar


Menina do Mar

Nos teus olhos sinto a alma de um mar,
No teu cabelo o sol que se espraia, raiando areal fora.
Minha virtude tem sido esperar,
Que haja mundo e haja hora!

Quero ter em mim a força da rebentação,
Das fortes ondas que agitam a praia serena.
Ter o céu e o infinito na minha mão,
Para fazer da distância coisa pequena.

Procuro-te do outro lado do risco eterno,
Que separa os homens de deus.
Quero ver nascer pontes de carinho terno,
Entre os meus olhos e os teus.

Quero sentir esse teu perfume,
De mil brisas e ventos soprados.
Ver acender-se e crescer em ti o lume,
Deliciando meu espírito em teus reflexos dourados.

Quero pintar-te o infinito e tudo mais além,
Dar-te o que só ao mar diz respeito,
Roubado docemente ao ondular que vai e vem
E levado por mim a velejar até ao teu peito.

Não sei quem és nem de onde vieste,
Voz do azul, companhia divina.
Só sei que estas palavras foram o que quiseste
E são só tuas, meu mar, minha menina…


Praias de S.João da Caparica
16.04.2008
(Para a Diana...com o sol e o mar ...)

Quero(te)


Quero(te)


Queria ver unidas música e palavras,
Nas doces linhas de um corpo leve,
Mas os campos de trigo que lavras
São no meu mundo alimento breve.

Falta-me o sol quente e a chuva fria,
O cheiro da terra molhada ao amanhecer…
Tenho o desejo de saber o que o céu seria
Se nascesse depois do trigo morrer.

Eu quero a noite e a bruma,
Quero o dia e a luz,
Quero o mar e toda a sua espuma,
Quero a praia e o vento que me seduz!

Balanço e oscilo livremente,
Sobre mundos e sobre gentes.
Quero equilíbrio permanente,
Quero loucuras de corpos e mentes…

Quero morrer e viver,
Viver e morrer eternamente!
Quero saber e não saber,
Saber e ignorância em equivalente.

Quero ser forte e não ter força alguma,
Para sempre, fortemente preso à liberdade…
Quero o universo e coisa nenhuma,
Ser virtude e a nulidade.

Não quero ser mais do que eu,
Não mais do que tudo e nada…
Quero o infinito escondido no céu,
Quero o Horizonte porta de chegada.

Quero um toque de maldade
E outro de altruísmo e entrega.
Quero ser acusado de bondade,
Quando a sua falta se alega.

Quero ser teu e meu simultaneamente.
Estar sozinho e com o mundo num só.
Quero o nunca e o constantemente,
Quero ser lembrado e morrer como pó…


Caparica
04.2008

terça-feira, abril 01, 2008

Curas de Sangue


Curas de Sangue

Hoje sou a tua sombra deambulante,
O teu reflexo no fumo que se desvanece.
Hoje sou o relógio de corda inconstante,
Que chora o tempo de que se esquece.

Sou o teu sangue latejante,
Num rio de raiva crescente,
Onde as vagas de luz flamejante
Levam e afogam toda a gente!

Rasga as muralhas do teu olhar,
Chama-me do mundo do índigo.
Venho nas asas do verbo Sonhar,
Venho eterno, venho ser teu Abrigo!

Preencher as feridas nos teus braços,
Arrasar a dor do teu corpo leve.
Fazer-me vivo no vazio de cada espaço,
Matar os cavaleiros da vida breve…

Solidão, medo, dor e morte.
Nuvens negras, céus do inferno,
Abismos da escura sorte,
Que trespassam o corpo mais terno.

Deita-te e descansa em mim,
Sou teu barco para outro firmamento,
As asas que te roubam ao derradeiro fim,
A nova vida, o novo nascimento…

Monte Caparica
01.04.2008