
Sonho e Música
Sentei-me lá fora na cadeia de baloiço,
Já era tarde…
As nuvens em fumo
Cobriam o foco que a lua era naquela noite.
Cruzei as pernas
E deixei-me embrenhar nos barulhos da escuridão,
Coro de sussurros, movimentos e gestos calculados,
Delineados na orla verde negro.
O astro adquiria à passagem de cada nuvem e sombra
Um brilho indescritível e vibrante,
Que incidia sobre a varanda
Onde ainda hoje olho este mundo e vejo o outro!
Subo agora os três degraus, lembro-me da varanda,
E lá está ele novamente,
Um foco que incide directamente em mim,
Um coro expectante de sentimentos
E uma imensidão de silêncio agitado.
Soltam-se notas,
Que são tinta para as palavras.
Harmonias que acompanham a voz do sonho,
Melodia flutuante
Feita da crença do que ouve e do que espera ser ouvido.
Há um desejo a dois,
Um rumo colectivo de pegadas conjuntas na areia
De um tempo, que nem o mar feroz pode apaziguar.
Deitei a cabeça e vi-me envolto numa partitura,
Onde componho a vida.
Com mais dinâmicas ou mais ritmo,
Num “Largo” de conforto, consonâncias, repouso, saudades e calma.
Num “Andante, ritmo de vida e de ocupação,
Que as circunstâncias trazem com constante barra dupla no final.
Num”Alegro” de agitação louca e descontrolada, com dissonantes alterações,
Tercinas sem sentido encaixadas em divisões de seres binários,
Que se perdem por não saberem qual a clave em que escrevem a vida.
Todo o homem tem um sonho!
Guardado dentro ou fora da caixa pulsante
Onde correm os rios de vida rubra.
Cada sonho acende um fogo,
Que consome a alma ou o corpo,
O espírito ou a matéria.
E não há como comprar um sonho,
Que sonhos são coisa livre e sem preço
E ou os temos ou seremos sempre vazios no vazio.
Não há mais música num sonho
Que sonho numa música!
Porque seguindo a receita, Deus os fez em conta perfeita,
A sinfonia alegre e doce,
Que penetra a pele de cada um
E corre nas veias
Acendendo a vida e o sonho,
De um palco mundo, de uma lua brilhando sobre nós
E de uma noite que nos abrace e nos dê o Sonho eterno
Agosto 2007