sábado, agosto 25, 2007

Amor


Amor

Pensei fazer rimar num só poema
Todas as palavras que continha.
Amor seja esse o tema!
Que loucura esta a minha
Que nem foi problema
Pois bastou uma só palavrinha…

Tu!

Lisboa \ Azueira
13\14.07.2007

Sonho e Música


Sonho e Música

Sentei-me lá fora na cadeia de baloiço,
Já era tarde…
As nuvens em fumo
Cobriam o foco que a lua era naquela noite.

Cruzei as pernas
E deixei-me embrenhar nos barulhos da escuridão,
Coro de sussurros, movimentos e gestos calculados,
Delineados na orla verde negro.
O astro adquiria à passagem de cada nuvem e sombra
Um brilho indescritível e vibrante,
Que incidia sobre a varanda
Onde ainda hoje olho este mundo e vejo o outro!

Subo agora os três degraus, lembro-me da varanda,
E lá está ele novamente,
Um foco que incide directamente em mim,
Um coro expectante de sentimentos
E uma imensidão de silêncio agitado.

Soltam-se notas,
Que são tinta para as palavras.
Harmonias que acompanham a voz do sonho,
Melodia flutuante
Feita da crença do que ouve e do que espera ser ouvido.
Há um desejo a dois,
Um rumo colectivo de pegadas conjuntas na areia
De um tempo, que nem o mar feroz pode apaziguar.

Deitei a cabeça e vi-me envolto numa partitura,
Onde componho a vida.
Com mais dinâmicas ou mais ritmo,
Num “Largo” de conforto, consonâncias, repouso, saudades e calma.
Num “Andante, ritmo de vida e de ocupação,
Que as circunstâncias trazem com constante barra dupla no final.
Num”Alegro” de agitação louca e descontrolada, com dissonantes alterações,
Tercinas sem sentido encaixadas em divisões de seres binários,
Que se perdem por não saberem qual a clave em que escrevem a vida.

Todo o homem tem um sonho!
Guardado dentro ou fora da caixa pulsante
Onde correm os rios de vida rubra.
Cada sonho acende um fogo,
Que consome a alma ou o corpo,
O espírito ou a matéria.
E não há como comprar um sonho,
Que sonhos são coisa livre e sem preço
E ou os temos ou seremos sempre vazios no vazio.

Não há mais música num sonho
Que sonho numa música!
Porque seguindo a receita, Deus os fez em conta perfeita,
A sinfonia alegre e doce,
Que penetra a pele de cada um
E corre nas veias
Acendendo a vida e o sonho,
De um palco mundo, de uma lua brilhando sobre nós
E de uma noite que nos abrace e nos dê o Sonho eterno

Agosto 2007

quinta-feira, agosto 23, 2007

Erros


Erros

Tantos passos já andei!
Tantos dei em falso.
A pobreza a que me larguei
Deixou-me descalço.

Piso o mundo com pés de louco,
Durmo em qualquer lugar.
Tudo me sabe a tão pouco,
Porque havia eu de falhar?

Fracasso por amor excessivo!
Mudei tudo para te ter,
Dei sorriso ao “eu” depressivo,
Nasci depois de morrer.

Procurei ainda a plenitude
E com certeza no meu desejo,
Busquei ter a virtude
De ser outro ao dar-te um beijo…

De sentir a força que corre
E deixa o mundo a girar em frenesim,
Que mata, dá vida e não morre
E que explode dentro de mim.

Não te dei nunca um beijo…
Mas já fiz tanto para te o dar.
O quadro que em sonho vejo,
Acaba sempre por se rasgar.

Perdoem-me os que atropelei
Na minha ânsia louca,
De ganhar as guerras que travei,
De beijar teus olhos, sentir tua boca.

Não posso errar mais assim
E olhar o erro que fica para trás.
Deixar que ele tome conta de mim,
A rir irónico, negro, mordaz.

Passaram tantos anos voando,
E tantos erros ficam plantados.
Os sonhos que vou sonhando
Estão cada vez mais acorrentados.

Grito aos sete ventos,
Até ao surgir da aurora,
Que quero em gestos lentos
Abraçar-te e saber que é a Hora!

Bandalhoeira
23.08.2007





terça-feira, agosto 21, 2007

Morrer


Morrer

Dei dois passos
E então cai.
Abri os braços,
Respirei fundo e sorri.
Cortei os laços
A que me prendi.

Vou explodir!
Aperto os dedos
Para nada fugir.
Deixo só os medos,
Esses podem partir
De meus olhos ledos.

Livre do mundo,
Preso a mim.
Poço sem fundo,
Asas de querubim.
A vida num segundo,
Único, sem fim…

Tempo sobre tempo,
Escuridão a cair,
Num só movimento,
Que me faz sair.
Tão breve mas lento
Este meu sumir.

Paro de repente!
Há algo familiar
Neste estranho subitamente.
Como pode uma queda parar
E ter fim o eternamente,
Para onde me queriam levar?

O corpo contraído,
Enche-o a dor.
Instante sofrido
Passa sem clamor.
Logo esquecido,
Cresce o calor…

Sobe a ansiedade
E corpo também.
Alguém o puxa à verdade
Quem será, quem?
Quem devolve a liberdade
Que foi e agora vem?

Plenitude!
Enche-me de mim,
Será mais uma vicissitude?
Princípio ou fim?
Não é inquietude,
Mas é frenesim.

Sombras de luz imensa
Confortam, abraçam,
Que força intensa
Com que trespassam.
Acendem a crença
No fogo que lançam.

Morri
De tanta vida.
Parti
Para voltar à partida.
Cheguei e vi
Adeus, estou de saída…

Vou lutar
De sangue e alma.
Coração a palpitar
De tanta calma.
Conheço o verbo sonhar
Como da minha mão a palma.

Luto pelo céu,
Pelo sonho que vivi.
Deito-me no mausoléu,
Que eu próprio construí,
Para escondido no teu véu,
Ser tudo dentro de ti.

Chamas de fulgores anis,
Luz no inferno.
Cinzas em que me desfiz,
Calor de Inverno.
És tudo o que sempre quis,
Amor eterno!

Lisboa
13.07.2007