quarta-feira, maio 27, 2009

Além de Tudo


Além de Tudo

Sete sóis e as sete luas,
Os quatro ventos num só.
Segredos livres nas ruas,
O mundo atado num nó.

Um céu de ouro branco,
Sobre o cheiro da terra,
Bate no esquerdo flanco
Sobre a paz e a guerra…

Asas neste sonho distante,
Amar em todas as palavras,
Sobre esse trigo ondulante,
Que em beijos tu lavras….

Sobre as flores de jasmim,
Sob a loucura desta vida,
Sonhadora até ao teu fim,
Dona da chave e da saída.

Cresce em luz o amanhã,
Fura a terra o verde crer,
Da esperança nunca vã
Um novo lugar a nascer…

Gotas de chuva choradas,
Brisas sibilantes e suaves,
Doces frases sussurradas,
Pintadas no voar das aves.

Do negro só há passado,
Da dor nem recordação!
Na memória Viver alado,
Ser Senhor sobre o chão.

Amar até o próprio amor,
Ser a tela e as aguarelas,
Do sangue ser vida e cor,
Ser parte nas coisas belas.

Se uma alma despertar,
Só um sonho a alimenta,
E voará sem nunca parar
Entre qualquer tormenta…

Deita-te, fecha os teus olhos,
Adormece no que agora lês…
Levanta-te entre os escolhos,
Diz-me, que sentes e que vês?


Anjos
27.05.2009

Para a Rita neste dia tão especial e importante para ela =)
Beijinho e Parabéns para a primeira e única WIP de todas ;)
(sonhar vai manter-te sempre viva, livre, única e Além de Tudo)

domingo, maio 17, 2009

Última Página


Última Página

As gentes sentam-se sobre o mundo,
À espera que ele não deixe de girar.
Somente esperando por mais um dia,
Mais uma noite que passe e os leve
Para saciar a fome de viver sem alma…

Sobre estes voam muito acima do chão,
Sonhadores de asas feitas de puro ouro,
Anjos que se tocam em movimentos de luz,
Que se amam do crepúsculo à nova aurora,
Que sonham e se esquecem de tudo o resto…

Há muito que partiram, levados pelo vento,
Abraçados ao eterno e infinito do tempo
Para serem as estrelas que faltam no céu
E na noite serem as luzes de outro mundo,
Um amanhecer que surge para o sempre!

Tristes e sós olham as gentes para as nuvens,
Presos aos espelhos em que se viram e reviram,
Afogados como Narciso na paixão do seu reflexo,
Quebrados como barro a que o sol secou a vida,
Corpos vazios e abandonados ao prazer dos dias…

Presos ao que tiveram, presos ao não ter,
Amarrados ao que tiveram sem entender,
Acorrentados pelas guerras que venceram
Sem pegar em armas, sem ter nunca lutado,
Perdidos entre a treva dessa falsa saudade…

Não olho mais entre as nuvens para a terra…
Há muito que reescrevo a mesma história,
Há muito que sofro a cada página que passa.
Letras de sangue que me levam o que sou,
Uma alma cansada que se abandona ao vento…

Deixasse apenas levar para bem alto e longe,
Para perto destes corpos alados e vibrantes,
Repletos de vida, de movimento e sentido.
E as lágrimas que chorar hão-de perder-se,
Morrer ao cair, como morre a dor e o passado.

Por entre o sol e a lua pintarei os passos,
Entre o princípio e o fim pintarei os dias.
Futuros com asas e utopias de distância,
Amores com desejo, com paixão e cor,
Anjo do azul para sempre eterno sonhador…



17.05.2009
Azueira
"à primeira wip de todas =) , obrigado por tudo, principalmente por me fazeres escrever!"

domingo, maio 03, 2009

Histórias de um Reino


Histórias de um Reino

O reino continua perdido,
O povo disperso e descrente
Nas finanças que são mendigas
E na fome é mais que a gente.
De almas não se fala nem se ouve
E a apatia vive senhora nos olhares,
Em tudo o que há e já houve,
Nas palavras e nos tristes andares…
Passam-se assim dias sobre dias
E noites só de escuro e vazio,
Os segredos são agora fantasias
E já não há anelos que levem o frio.
Não há silêncio nas palavras,
Nem fogos a arder eternamente
E essas terras que ainda lavras,
São colheita enferma e doente.

Alguém roubou o tesouro
E matou o último querubim.
Trocar a morte pelo ouro,
Quem faria coisa assim?
Rosto coberto e encapuçado,
Manto negro e assustador,
Onde passa tudo é levado
E o que fica é pranto e dor.
De entre as sombras surge,
Mata tudo em volta e passa
E enquanto o tempo urge,
Traz fome e traz desgraça.
Esse vulto que vai e vem,
Sem passado nem história,
Sem o nome de ninguém,
Mancha e arde na memória.
Deixa a arca vazia,
Povo e rei chorando,
A terra morta e fria,
O verde secando…
O breu que arrasta consigo
É o sangue que vai ficando,
É a má sorte e o inimigo,
É um barco naufragando,
É o fado de um coitado,
Há muito a cantar só,
Que onde morre é deixado
Para se perder no pó….
Levou tudo e voltará,
Para calar todas as vozes
E nenhuma coragem restará
Entre seus feitos atrozes.

Tranco as portas e fujo,
Temo perder os sonhos e a vida!
Choro pelo lugar sujo,
Que é este reino sem saída.
E no meio do meu partir,
Cansa-me a eterna distância.
O cansaço é o meu sumir,
É quem leva a minha infância.
Com ela vão as asas do vento,
Aquele meu desejar tão forte,
Voar doce de um dia lento
A beijar as serras do norte.
Entre as chuvas e o branco,
Neves de felicidades sem fim,
Este lutar feriu-me o flanco,
Este fugir arranca-me de mim…
Trespassa-me como lança o peito,
Fere o meu profundo amar,
Deixa a imaginação sem jeito,
Leva de Blimunda o amado Baltazar.
Queima no céu a passarola,
Que sonhos e almas fizeram voar,
Enquanto o povo se consola
Levam-me tudo o que me fazia andar…


Azueira
3.05.2009



"a todos os que lutam contra os vultos sem rosto e vencem, a todos os que resistem, sonham e vivem para ser um exemplo"