
Eclipse
Hoje somos um só a ver estrelas e a sonhar o horizonte.
Enquanto a noite corre todas as janelas sem entrar,
Passa pela minha e leva-me até onde quer que tu estejas,
Com a tua luz a ofuscar a ténue existência dos seres nocturnos,
E com todo o teu brilho a convocar um eterno sonho em teu redor.
Absorve-me nesse teu calor e perfume!
Faz vibrar em mim cada pedaço vivo de imaginação e de utopia!
Deixa-me deitar a cabeça no teu colo e olhemos pela varanda,
Esquecendo que lá em baixo as ruas dormem do frenesim habitual,
Que os candeeiros marcam tristemente lugar nas calçadas despidas
E que os poucos homens que as percorrem levam os bolsos vazios.
Olhemos antes o que está para além,
Enquanto a fugaz frincha de lua faz brilhar este mundo.
Olhemos para ver que somos um e que esta noite tudo se completa.
Que o barco parte e navega o infinito,
Que o pássaro abre as asas e voa o eterno,
Que os nossos corpos se juntam na distância,
Que os nossos passos se movem na escuridão.
E quando não houver nem a lua, brilharás tu
Dentro de mim transbordando pelo céu,
Até que se encha de inveja a senhora da noite e chorem as estrelas do firmamento,
Até que o pulsar único deste breve momento preencha toda a alma,
Até que o olhar irradie a tua vida, a tua essência, esse meu deslumbramento.
Não restarão palavras, só toque, entrega, chegada...
E quando o pano descer e se calarem os aplausos,
A minha cabeça continuará no teu colo e o meu coração deitado sobre o teu.
Eu terei o mundo...
E a minha noite escrever-se-á com as palavras em que nos deitámos.
Bandalhoeira
24.02.2008