domingo, fevereiro 24, 2008

Eclipse



Eclipse


Hoje somos um só a ver estrelas e a sonhar o horizonte.
Enquanto a noite corre todas as janelas sem entrar,
Passa pela minha e leva-me até onde quer que tu estejas,
Com a tua luz a ofuscar a ténue existência dos seres nocturnos,
E com todo o teu brilho a convocar um eterno sonho em teu redor.
Absorve-me nesse teu calor e perfume!

Faz vibrar em mim cada pedaço vivo de imaginação e de utopia!
Deixa-me deitar a cabeça no teu colo e olhemos pela varanda,
Esquecendo que lá em baixo as ruas dormem do frenesim habitual,
Que os candeeiros marcam tristemente lugar nas calçadas despidas
E que os poucos homens que as percorrem levam os bolsos vazios.
Olhemos antes o que está para além,
Enquanto a fugaz frincha de lua faz brilhar este mundo.
Olhemos para ver que somos um e que esta noite tudo se completa.
Que o barco parte e navega o infinito,

Que o pássaro abre as asas e voa o eterno,
Que os nossos corpos se juntam na distância,
Que os nossos passos se movem na escuridão.
E quando não houver nem a lua, brilharás tu
Dentro de mim transbordando pelo céu,
Até que se encha de inveja a senhora da noite e chorem as estrelas do firmamento,
Até que o pulsar único deste breve momento preencha toda a alma,
Até que o olhar irradie a tua vida, a tua essência, esse meu deslumbramento.
Não restarão palavras, só toque, entrega, chegada...
E quando o pano descer e se calarem os aplausos,
A minha cabeça continuará no teu colo e o meu coração deitado sobre o teu.
Eu terei o mundo...
E a minha noite escrever-se-á com as palavras em que nos deitámos.

Bandalhoeira

24.02.2008

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Fascínio de Mudança


Fascínio de Mudança

A noite não é a luz que falta,
Nem os escuro que cresce.
Não é o coração, a pulsar que salta,
Nem um corpo que se mexe.

Fazem-se conclaves,
De gentes desconhecidas
Para erguer pelas claves
Partituras, escritos e outras vidas...

Arrastam-se em frenesim,
Aqueles cujo interior colapsa.
Noite após noite festim,
Que passa, passa, passa...

Donde vieste?
Para onde voltas?
Que amor trouxeste?
Que segredos escoltas?

Que guarda armada é a tua,
Que me deixa sem mim?
Que intriga as pedras na rua,
Passos e passos sem fim...

Fascinante certeza
Do sorriso a deambular.
Terrível bela natureza
Que me deixou a pensar...

Mudar assim um universo
Só com sorrisos e fitar de olhos.
Se não há sonho, não há verso,
Há um barco preso nos escolhos...

Ah mas eram olhos vivos!
Eram olhos de um tudo infinito.
Lábios esquivos
Beijando o que foi escrito.

Apagando ponto a ponto,
Letra a letra, sem parar,
O que tem sido o encontro
De uma vida sem pensar...

Escrever a alma
Sem ter lido a paz e a guerra,
É não saber o que diz essa palma
Nem os segredos que encerra.

Quem me dera mais uma hora...
E outra e outra depois dessas.
Andar por cenas e actos fora
A ver o mundo representar as suas peças.

E tu que partiste o inquebrável,
E reescreveste os papiros de um passado,
Levas o sorriso inesgotável
E deixas-me um todo uno e saciado...

05.02.2008
Bandalhoeira


Para ti doce desconhecida...